sábado, fevereiro 27, 2010

Tours

Ontem, em Tours, onde fui ao lançamento de um "Portuguese Business Club" e encontrar um ativo setor da nossa comunidade, comentei com o "maire" da cidade, Jean Germain, um bom amigo de Portugal e dos portugueses, a beleza da sala da "Mairie" onde estávamos. 

Para minha imensa surpresa, disse-me ser aquele exatamente o local onde Léon Blum havia proferido o seu famoso "discurso de Tours", em 27 de Dezembro de 1920.

Num instante, confrontei-me com a memória daquele que é talvez o grande "separar de águas" entre socialistas e comunistas. O "discurso de Tours" é considerado uma das peças políticas mais relevantes do século XX, porque foi através dele que o chefe socialista marcou o seu afastamento face às ideias de Lenine e a sua rejeição em aderir à III Internacional (Internacional Comunista), o que conduziu à melhor definição de uma linha democrática dentro do socialismo francês, que acabou por ter consequências muito importantes em todo o mundo. Com o "discurso de Tours", Blum ajudou a abrir um caminho autónomo, em termos de prática política com efeitos na governação, a uma corrente de pensamento que viria a ser determinante a partir de então e que, em França, daria aos socialistas a autoridade para poderem lançar, com os comunistas, o "Front Populaire" e, muitos anos mais tarde, o "Programme Commun". 

Quem vive em França corre o sério "risco" de encontrar a História pelas esquinas do quotidiano.

4 comentários:

Alcipe disse...

Boa memória da história do movimento operário, caro Francisco : a importância do discurso de Tours, quem a lembra hoje? E foi o grande separador das águas... Abraço deste velho socialista

Alcipe

Anónimo disse...

Bela peça. Assim se faz a história. Obrigado, Embaixador

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Um dos aspectos de que mais gosto neste seu blogue é a memória do seu autor. Que sempre me impressiona pela oportunidade.
Ainda bem que lembrou Leon Blum e o discurso de Tours. É algo que não devemos esquecer!

margarida disse...

Vivemos rodeados de História e tantas vezes passamos indiferentes ou alheados, dispersos e desatentos. Mal olhamos acima da linha do que nos passa, veloz, pelo nível directo da visão. Falhamos os topos dos edifícios, perdemos tanta imponência das formas fruto do desvelo de artífices de outros tempos, quanto descuramos factos e figuras que transformaram locais e pessoas.
Percebo crescentemente as vezes em que deambuler por locais que eram muito mais do que pedras belamente empilhadas.
Herdámos um longo caudal de eventos que escassíssimas vezes consideramos.
E ao visitarmos museus, palácios, castelos ou planícies onde o vento traz ecos de batalhas perdidas no tempo, vemos sobretudo a placidez de hoje.
E lembrar o confronto de antanho seria útil, se não essencial.

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