segunda-feira, novembro 15, 2010

Diplomatas, embaixadas & orçamento

Por estes dias, o tema da possível redução do número de representações diplomáticas portuguesas pelo mundo, no contexto orçamental restritivo que se vive, voltou à baila pública. E, nessa discussão, as condições em que os diplomatas portugueses operam tornam-se também objeto de alguma atenção.

Este é um tema que surge de tempos a tempos. A sua abordagem, as mais das vezes, é feita com alguma ligeireza naif, porque é relativamente fácil falar do que se conhece mal ou daquilo sobre que se tem uma visão apenas parcelar.

Não tenho nem pedi mandato a ninguém, mas entendi não dever furtar-me a responder a algumas questões que me foram colocadas pelo "Diário de Noticias". O que eu disse nessa curta entrevista, que hoje o jornal publica, compromete-me apenas a mim, mas posso crer que muitos colegas de profissão poderão talvez sentir-se representados em algumas das minhas respostas, as quais, para quem quiser, podem ser lidas aqui.

17 comentários:

patricio branco disse...

um país deve ter uma rede de embaixadas e consulados à sua medida, de acordo com as suas necessidades, ambições e possibilidades.
Para um país pequeno e não rico, melhor concentrar-se num numero mais reduzido de embaixadas e consulados, estrategicamente colocados e bem equipados em pessoal e meios, que ter uma rede sem lógica e planificação. Unidades eficientes, portanto, politica, economica, culturalmente e para assistencia às comunidades portuguesas.
Há países que quase não têm embaixadas ou consulados e não é por isso que estão menos presentes internacionalmente, casos da belgica, irlanda ou luxemburgo.
a nossa dimensão é pequena, façamos bem onde temos interesses e capacidade para nos desenvolvermos: brasil, eua, frança, alemanha, espanha, reino unido, palops, africa do sul, e deixemos as etiopia, filipinas, peru, ucrania, tunisia, costa do marfim, paises onde não somos nem seremos nada.
Porque ter tambem tantos consulados em países (da UE, p ex) que não se justificam? 4 em frança, 1 ou 2 em espanha, 3 na alemanha, 3 ou 4 nos eua, 5 no brasil, 2 na rsa, 1 na venezuela, macau, goa e australia, bem organizados, dotados e eficientes, penso que seriam suficientes.
pouparia se muito dinheiro no que não é necessário para aplicar onde o é.
Quanto à carreira diplomatica, não é que seja uma de elite, creio que tem os problemas e vantagens de tantas outras carreiras, provavelmente a militar hoje em dia é muito mais confortavel e com mais benefícios, mesmo a da magistratura. E quanto a trabalhar no estrangeiro, pois deve ser muito melhor ser deputado europeu ou funcionário internacional.
Ps. vê-se que o ministro luis amado está contrariado no lugar e quer sair, começando já a falar em roda livre, possivelmente para o pm sócrates se incompatibilizar com ele e o tirar. Nesta situação, sem ele ter boa vontade, não seria a melhor altura para se reformar o min. dos estr.
Pps.Optimo, para finalizar, que um funcionário publico como o embaixador FSC diga francamente a sua opinião sobre estas natérias, baseada no conhecimento e na experiência.

patricio branco disse...

só uma pergunta, se é possivel saber: de quem é o quadro que ilustra a entrada do blogue?

Unknown disse...

Bom dia sr Embaixador,

o titulo do artigo do JN. é mesmo desonésto... mais uma tentativa de sensacionalismo da parte deste jornal.Aonde o sr. defende o contràrio!

Guilherme Sanches disse...

Uma boa entrevista, com respostas dadas "por cima" a perguntas feitas "por baixo".

"A economia está na matriz da nossa acção diplomática" - havia de ser mais verdade, porque em detrimento de coisa nenhuma, sem uma economia dinâmica e forte, sem produzirmos mais e melhor, sem criarmos mais riqueza, sem exportarmos mais... poupar, poupar apenas, não passa de uma agonia lenta, em via direta a caminho de uma fatalidade anunciada.

Um abraço

Anónimo disse...

Oportuna, excelente e…clarificadora entrevista esta sua. A “classe”, pode crer, agradece-lhe e muito! Fica o desejo de que possa contribuir para uma imagem menos negativa que certos sectores têm sobre os diplomatas. Acredito que sim. E quanto à opinião de M.M.Carrilho relativamente ao IRS sobre as representações, aquilo que a esse respeito refere é mais do que esclarecedor (incluindo os descontos para a CGA).
“Adido de Embaixada”

Gil disse...

Subscrevo o que diz na entrevista e abundo nos argumentos.
A dimensão e distribuição geográfica e orgânica da rede diplomática deve (é) determinada pelos objectivos da política externa, pelos interesses estratégicos do país (que não se compadecem com o curto prazo) e, até, pelo que dele esperam os parceiros internacionais.
Se não há dinheiro, reestruture-se e adapte-se o dispositivo diplomático e consular. Mas faça-se isso tendo em conta que, no campo das relações internacionais, não se aplica a máxima "quem não tem cão caça com gato". Aqui, quem não tem cão, não caça, pura e simplesmente.
Claro que o país não morreria sem uma rede diplomática ambiciosa e planetária. Os estados exíguos também continuam a existir. Só que são exíguos.
Por isso, a desejável reforma e racionalização da rede de embaixadas, representações e consulados não pode ser pensada em termos estritamente financeiros nem determinada exclusivamente por critérios economicistas nem executada por amadores ou iluminadosque desconhecem e desprezam a História.

Alcipe disse...

Muito bem. Discuta-se a sério e com conhecimento de causa. Sabem que na Etiópia fica a sede da União Africana? Que a Ucrânia tem uma boa parte da sua população em Portugal? Que o Magrebe, Tunísia incluída, tem sido uma área fundamental para os nossos investimentos? Que na Costa do Marfim há muito não temos embaixada?
A presença internacional da Irlanda, da Bélgica e do Luxemburgo não se dá por ela...
Nós sempre vivemos voltados para fora. Se querem agora que sejamos a "Nápoles por suíços habitada" de que falava o O'Neill, digam. E a nossa capital em Madrid será sempre acessível, mesmo sem TGV...

LP disse...

"Quem não aparece, esquece".

Tal como uma família, empresa, país e mundo, sem pessoas não o são. Ora, aplicando o provérbio e a minha frase, quer se queira quer não, o sucesso das pessoas está na relação entre elas in loco; reuniões de família, briefings empresariais, debates e contacto de governantes com a população, relações públicas mundiais e apoio administrativo além fronteiras.

Escamotea-se muito a verdadeira razão de todo este desconforto e desencontro de opiniões à custa do "eu estar mal, não quero que os outros estejam bem" e, corre-se o risco de o país ficar sem capacidade sequer de
dizer que é em Portugal que termina ou começa a Europa.

Há muita inutilidade humana em lugares chave, e é isso que muita outra gente anda esquecer.

A vida não é só feita de dinheiro. Este é o resultado de um esforço colectivo de construção.

Anónimo disse...

"Fácil falar do que se conhece mal..."In (FSC:2010)

Ainda estou a refletir...
Ah!Fácil sinónimo de leviandade.
Isabel Seixas

Anónimo disse...

E que tal um corte nos Vice-Consulados?

E que tal um valente "desbaste" nos Consulados Honorários?

De certeza que, só com estes, era cá uma poupança...

IBP

patricio branco disse...

Com respeito (mas tambem com ironia)União Africana o que é e que faz? Tem utilidade para os países que a compõem e indirectamente para portugal? Se a etiopia tivesse algum interesse para nós seria por razões historicas, arqueologicas, ajudar a remover os vestigios portugueses até encontrar algum retrato de camões ou uma moeda de d. manuel,reconstruir uma fortaleza onde passou vasco da gama, mas não temos dinheiro ou capacidade para esses projectos.
(Um ex. das nossas limitações, a cidade velha da Praia (c verde) se está a ser restaurada e estudada é por espanha.)
Mesmo havendo união africana, em minha opinião feche se etiopia, e tambem nairobi, bolivia, cuba, ucrania,paquistão, etc, e com o excedente de pessoas e dinheiro reforcem se brasil, palops, frança, madrid,eua, uk, alemanha, ue e mais algum.Concentremo nos onde temos possibilidades.
E concordo absolutamente com alcipe que para ir a madrid não necessitamos dum tgv, mas necessitamos sim dum bom comboio, tgv ou não, porto-coimbra-lisboa- evora-faro pois temos direito a boas comunicações internas por comboio. É efectivamente a capital madrid que quer a linha badajoz-lisboa (que para nós não pararia senão em évora)

João Antelmo disse...

O que é que faz a União Africana?!!
Eu peço mil perdões ao senhor Patrício Branco mas alguém que não sabe o que faz a União Africana não me parece a pessoa indicada para se pronunciar sobre onde devem ou não existir Embaixadas de Portugal.
Eu entendo a ironia mas ela parece-me descabida.
Portugal tem um passado e um património histórico e diplomático; apagá-los e esquecê-los em nome de uma economia de tocos de vela, "poupando" nos países pobres e "investindo" só nos poderosos, corre o risco de que os poderosos nos sigam o exemplo e comecem a perguntar "porque uma Embaixada em Portugal? O que é que faz Portugal?".
As relações internacionais e a política externa são um pouco mais complexa do que a gestão de uma mercearia.
É que, aplicando a fórmula mercantilista à política externa, perderíamos toda a capacidade de manobra que leva êxitos como a eleição para o CS, a Presidência da UE e, até, á escolha da sece dos campeonatos internacionais de futebol.
Concordo com Alcipe: não quero que o meu país seja a "Napoles por suiços habitada"; não quero Portugal uma Andorra ou um San Marino, por mais prósperos que sejam.

patricio branco disse...

Continuo a perguntar: que faz a união africana que tenha interesse ou vantagens para portugal, que não pode ser membro (e mesmo para os membros?) e gostaria que alguem dentro dos assuntos da organização me desse uma resposta concreta, para eu aceitar termos uma embaixada na etiopia.
Sobre nápoles, nem suissos nem sequer italianos, só napolitanos, totó, peppino de filippo e O sole mio

Alcipe disse...

O que eu queria dizer era que com as vossas propostas minimalistas para a nossa diplomacia, acabamos como uma província espanhola. Por mim, tudo bem! Yo hablo castellano!

João Antelmo disse...

Muito, mas mesmo MUITO, resumidamente:
A União Africana, organização em que Portugal detem o estatuto de Estado Observador e da qual o português é uma das línguas oficiais, agrupa 52 países, entre os quais todos os PALOP, África do Sul, Nigéria, etc.. O conjunto dos seus membros representa cerca de 900 milhões de habitantes.
Ora, África representa matérias primas essenciais, produtos agrícolas,enfim, riquezas fabulosas que o continente encerra.
Especificamente para Portugal, África faz parte da própria matriz da História e da cultura portuguesas.
Perante isto, se o interesse de Portugal na UA não ficar evidente, nada é evidente.
Mas a questão não está aí; está em que a diplomacia e as relações internacionais não se podem analisar na base do mero interesse económico e, muito menos, do curto prazo.
Se assim for, não vejo mais do que dois ou três países paupérrimos que teriam interesse em manter Embaixadas em Portugal. Portugal estaria isolado, só, desprezado.
Mais não é possível explicar neste aqui.

Alcipe disse...

Queridos amigos

La Región Autónoma de Portugal ha caído en una estafa, cuando hemos acceptado la decisión de poner nuestra Caja de Ahorros Provincial (antigua Caixa Geral de Depósitos) a financiar los déficits de Extremadura y Castilla-La Mancha. Por otra parte, Cataluña se niega a "poner un duro que sea en la orilla occidental". A la atención también de la Xunta de Galicia!

Noviembre de 2020

patricio branco disse...

Na verdade não fiquei convencido de que precisamos de 1 embaixada em adis abeba por causa da UA e da importancia que tal organismo tem para portugal, mas o problema pode ser a minha ignorancia.
Mas que podemos cortar 9 ou 10 embaixadas e com o que poupamos (em dinheiro e meios humanos)reforçar algumas outras, disso estou certo.

O outro lado do vento

Na passada semana, publiquei na "Visão", a convite da revista, um artigo com o título em epígrafe.  Agora que já saiu um novo núme...