domingo, junho 14, 2015

A Feira do Livro


São mais baratos os livros na Feira do Livro? Não muito! Há livrarias em Lisboa que, ao longo do ano, vendem já com desconto permanente. E, se a isso somarmos os cartões de desconto - da Bertrand, da FNAC ou da Almedina - essa perspetiva melhora ainda mais. Além disso, para obras em segunda mão, há espaços semanais de venda por toda essa Lisboa. Resta concluir que, como na Feira acabamos por comprar muitas coisas que, em dias normais, nunca compraríamos, lá se vai rapidamente qualquer poupança...

Mas a Feira é uma festa única, porque nos dá, em poucas centenas de metros, um "fresco" da edição portuguesa (e também alguma coisa em inglês e espanhol). Com ela, aumenta em nós aquela resignada angústia face à imensidão de livros que gostaríamos de ter lido (embora, para isso, no meu caso, não precise de sair de casa) e que nunca leremos, porque o tempo não se compra. Na Feira aprendemos a conhecer novas editoras, descobrimos edições de autor (quase sempre com péssimas capas) a que dificilmente chegaríamos sem essa "montra", recuperamos para a vista livros que nos haviam escapado do dia-a-dia das visitas às livrarias.

Na Feira também conseguimos fugir a uma das mais sinistras práticas comerciais que se usam em Portugal: a ditadura da exposição livreira. Sem nos darmos conta, grande parte das principais livrarias portuguesas vive hoje sujeita à obrigatoriedade, por compromisso com as grandes cadeiras editoriais e de distribuição, de darem prioridade na exibição nas suas montras e nas mesas de apresentação, às edições provenientes dessas específicas indústrias de fabricação encadernada de páginas escritas, anulando fortemente a visibilidade de outras obras que não beneficiam desses apoios.

Este ano, passei por três vezes pela Feira. Comprei alguns livros óbvios (como a nossa Constituição atualizada, que cada vez faz mais falta), outros mais estranhos e inúteis, outros para trabalho. Ontem, já de saída da última jornada, dirigiu-se a mim uma jovem muito bonita, perguntando-me se a conhecia. Tenho boa memória para caras (em especial para caras bonitas...), mas, no instante, hesitei. Ela explicou: tínhamos passado férias juntos há mais de vinte anos, na Turquia, com um grupo de amigos, era ela ainda uma criança. E agora ali estava ela, a assinar livros, como autora. Por um mero acaso - às vezes, acontece! -, eu tinha lido e apreciado muito os livros que ela escrevera, sem saber que conhecia a autora. A graça da Feira também é isto.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tornou-se, de facto, um martírio olhar para os escaparates das nossas livrarias (há exceções). Uma montra inteira com vários exemplares de um único título pode ser um imperativo de marketing, mas de marketing de massas. Por isso perdi o prazer que tinha em percorrer demoradamente uma livraria.

Quanto à feira, também lá fui três vezes. É um pouco melhor que calcorrear livrarias mas, com o aparecimento dos grandes grupos editoriais, já perdeu muito do interesse que tinha. Parece que vendem capas e não livros. Felizmente, há sempre o refrigério dos alfarrabistas.

Anónimo disse...

Eu, nem à feira fui.

Tanto nas livrarias, como na feira em si, os livros estão caros.

Muitos dirão que tem que se pagar o trabalho do autor e da editora. Não coloco isso em causa, pois compreendo.

Também não tenho ido ao cinema. Os bilhetes não são caros, são caríssimos.

Pensando melhor, se calhar sou eu que ganho pouco.

Horácio

Luís Lavoura disse...

na Feira acabamos por comprar muitas coisas que, em dias normais, nunca compraríamos

aumenta em nós aquela resignada angústia face à imensidão de livros que gostaríamos de ter lido e que nunca leremos


Pois é precisamente por essas duas razões que eu já há alguns anos deixei de ir à Feira do Livro.

Os EUA, a ONU e Gaza

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