domingo, janeiro 09, 2011

Vitor Alves (1935-2011)

Deve ser geracional: cada vez tenho mais mortos conhecidos.

Vitor Alves é um nome que, nos dias de hoje, pouco dirá a largos setores da opinião pública. Contudo, é pena que se não saiba que foi uma figura que muito contribuiu para a liberdade que abril nos trouxe, nessa magnífica aventura de 1974. Coordenador do programa do Movimento das Forças Armadas, era um homem sereno e de extrema cordialidade, um "cavalheiro" que, em diversas ocasiões, encontrei nos corredores da Revolução, com um sorriso simpático, um discurso e uma prática política de onde esteve sempre ausente qualquer radicalismo.

Um dia, no final dos anos 90, Vitor Alves procurou-me para tratar de assuntos profissionais, recordo-me que ligados à atividade de empresas nacionais em Marrocos. A conversa tinha condições para ser bastante breve. Num instante, vieram à baila os tempos do "verão quente". Os seus olhos brilharam e ali ficámos - o velho capitão de abril e o antigo oficial miliciano - a recordar gentes e factos desses tempos de esperança, por mais de uma hora. Nunca mais o vi.

sábado, janeiro 08, 2011

Ainda o WikiLeaks

Foi muito interessante o debate em que ontem participei na "Rádio Renascença", a convite de Marina Pimentel, a propósito do caso WikiLeaks, na primeira edição do novo programa "Em nome da lei". Durante quase uma hora, o juiz Eurico Reis, o professor universitário Luís Fábrica e eu próprio abordámos as consequências políticas e jurídicas do caso WikiLeaks.

No essencial, julgo que estivemos de acordo: tratou-se da divulgação de segredos de Estado, sujeita a procedimento criminal. E, na minha opinião, nenhum "interesse público", eventualmente arguível por alguns dados novos revelados nessa documentação, justifica uma devassa generalizada que põe em risco a segurança de Estados e dos seus servidores, que expõe interlocutores de boa fé e que cria um véu de suspeição sobre o exercício da profissão diplomática.

"Procedimento concursal"

Há semanas, uma colaboradora minha trouxe-me um documento para assinar onde se falava de "procedimento concursal". Tratava-se das regras para um concurso público. Recordo-me - e ela recordar-se-á também - que reagi levemente à utilização da expressão. Mas logo me foi evidenciado que se tratava de uma fórmula que vinha assim crismada num documento vindo "de Lisboa". Porque tinha pouco tempo, e talvez também pouca paciência para me preocupar com pormenores, lá assinei o papel. Mas fiquei a remoer o assunto...

Acabo de ler, no último número do "Sol", que o Pedro d'Anunciação (numa coluna não assinada, mas que destila a sua pena teclada) se insurge - e muito bem! - contra o termo "procedimento concursal". 

Meu caro Pedro: receio bem que já não vamos a tempo de evitar este esmagamento definitivo pelo "administrativês", essa espécie de degenerescente iliteracia criativa, que dá foros de lei a desnecessários neologismos, promovidos por alguns juristazecos "de trazer por casa".

No Partido

Há dias, fui à sede do Partido Comunista Português, na rua Soeiro Pereira Gomes. Só aí consegui adquirir a "Antologia Poética" de José Carlos Ary dos Santos, que um amigo brasileiro, há meses, insistentemente me pedia. Em todas as livrarias me diziam que a obra, das "Edições Avante!", estava há muito esgotada. Numa noite, ao ver na televisão uma declaração pública de um responsável do PCP, tendo como cenário de fundo o que me pareceu serem estantes de uma livraria, achei que essa poderia ser a solução para o meu problema. E foi.

Esta era a segunda vez que entrava numa sede do PCP. A primeira havia-me ficado bem gravada na memória.

Estávamos em Maio de 1974. Num jornal, apareceu a notícia de que o PCP iria abrir a sua primeira sede, numa certa noite, na rua António de Serpa (aquela que iria ficar eternamente crismada, na memória política portuguesa, como "a António Serpa", simplificando o nome do poeta). No texto, dizia-se que o partido, logo na ocasião da inauguração dessa sede, iria pôr à venda exemplares de documentos clandestinos editados durante a ditadura. Eu era, à época, um colecionador dedicado de publicações desse género, tendo já então uma apreciável coleção, a qual, naturalmente, ficaria muito enriquecida com o que o PCP viesse a disponibilizar.

Assim, ao princípio dessa noite, apresentei-me no nº 26, 2º E, da avenida António de Serpa. Atenderam-me com simpatia, dizendo-me que teria de aguardar por alguém, o responsável que ia pôr o material à venda. Os minutos foram, entretanto, passando. As salas, quase vazias de móveis, começaram a encher-se de pessoas, reconhecendo-se entre si. Eu tentava imaginar os encontros anteriores dessa gente, figurava as suas atividades no mundo clandestino dos comunistas, presumia alguns nas batalhas eleitorais em que se haviam envolvido, do MUD e de Norton de Matos a Humberto Delgado, de Ruy Luis Gomes à CDE. Mas, por muito que procurasse, nessas caras, figuras que tivesse encontrado no Congresso Republicano de Aveiro, na célebre sessão do Palácio Fronteira ou por ocasião da "Plataforma" de S. Pedro de Muel, eu não conhecia ninguém. E continuava sozinho. Até que, num certo momento, me dei conta do ridículo da situação.

Com efeito, ali estava eu, por um motivo mais do que fútil, numa festa que não era minha e que, para aquelas pessoas, era uma verdadeira ocasião histórica. Aquela era a data em que um partido que entrara na clandestinidade 48 anos antes, cujos militantes haviam sofrido como nenhuns outros a violenta repressão da ditadura, abria, na legalidade, a sua primeira sede. E eu era, nesse evento, um verdadeiro intruso. Começava a ter a sensação, porventura exagerada, que essa solidão já deveria estar a ser olhada com estranheza por alguns. Não procurava estabelecer contactos, com receio que alguém me perguntasse qual era a minha relação com o partido, que não era nenhuma. Discretamente, fui-me aproximando da porta de saída.

Foi então que dei, de frente, com uma cara conhecida, um antigo quadro do movimento associativo de Medicina, que eu cruzara em várias "guerras" universitárias, constando que estava ligado ao PCP. Olhou para mim, com algum espanto, sabedor que aquela não era a minha "praia" política, seguramente perplexo com a minha presença no seio dessa festa do "Partido" - como, à época, a maioria de nós designava o PCP. Imagino que devo ter feito uma risível figura, quando lhe expliquei: "Vinha aqui comprar "Avantes!" antigos, que li que iam ser postos à venda...".

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Banco é Caixa

Em alguns círculos persiste a ilusão de que os diplomatas são uma casta regiamente paga, usufruindo de uma vida de luxo e, por essa razão, com vastos "cabedais", talvez colocados em paraísos fiscais. Se esses círculos verificassem, com regularidade, no "Diário da República", as ridículas reformas de embaixadores com cerca de 40 anos de serviço, talvez mudassem de ideias.

No início do ano passado, em Paris, caí por acaso num curioso ambiente de conversa. Uma noite, depois de um jantar, discutia-se, em casa de um magnate, a "tragédia" que era a progressiva transparência do mundo da banca, a qual, cada vez mais, impedia o tradicional refúgio em bancos da Suíça ou do Lichtenstein. Os meus interlocutores sentiam-se agora progressivamente condicionados na sua liberdade de investimento e condenados a regimes fiscais bem menos favoráveis do que aqueles a que estavam habituados.

A certo ponto da conversa, na qual, por razões que só para mim eram óbvias, eu me sentia algo isolado e em que não tinha intervindo, um dos circunstantes, um simpático aristocrata no ativo e riquíssimo industrial na reforma, voltou-se para mim e perguntou:

- E você, Francisco, em que país coloca os seus investimentos financeiros? Com a sua experiência diplomática, deve ter descoberto bons locais para investimento...

Soubessem eles o que eram os meus "investimentos financeiros" e a pergunta só surgiria por ironia. Mas não: falavam a sério, convictos da minha "riqueza". Assim, deu-me algum gozo, embora tivesse a consciência de que, nesse instante, baixava uns bons furos na escala de avaliação social do grupo, poder responder:

- Eu coloco todo o meu dinheiro em Portugal. O banco que mais uso é do Estado e chama-se Caixa Geral de Depósitos.

Nesse instante, tive a certeza que o meu pai, leal funcionário da Caixa entre 1930 e 1977, e que nesse ano de 2010, se fosse vivo, completaria a idade da nossa República, teria ficado orgulhoso com a minha resposta. 

Opiniões

Ele não conseguiu resistir e, na conversa com uma daquelas figuras que, na comunicação social, se pronunciam regularmente sobre todos os temas, por mais especializados que sejam, disse-lhe: "Eu estou quase sempre de acordo consigo, exceto quando conheço os assuntos".

terça-feira, janeiro 04, 2011

Vícios

Era um embaixador delicado, um pouco snobe, mas uma figura muito educada e agradável, que deixou um memória positiva e pedagógica na "casa".

Um dia, um interlocutor francófono perguntou-lhe se fumava. Respondeu:

"Je n'ai pas des petits vices. Je me garde pour les grands..."

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Seminário diplomático

O Seminário diplomático, que anualmente reúne, com os seus responsáveis políticos, os embaixadores e altos funcionários do MNE, tem tido vários modelos, desde que foi criado, creio que em 1994. Iniciado nas instalações do MNE (onde ainda não há um auditório!), mudou-se depois para o CCB e, mais tarde, para o Instituto da Defesa Nacional.

(Devo confessar que não é sem uma sensação algo estranha que sempre me sento naquelas cadeiras do IDN onde, há mais de 35 anos, estive presente em Assembleias do MFA e outras reuniões militares nos tempos do "verão quente", algumas bem agitadas...)

Ontem, para além das intervenções institucionais e de parceiros de profissão, tivemos dois interessantes painéis - um sobre a nossa presença no Conselho de Segurança das NU e outro sobre a situação económico-financeira - nacional, europeia e mundial.

Contrariamente a algumas outras ocasiões, devo dizer que dei por muito bem empregue as várias horas passadas a ouvir exposições feitas por um excelente grupo de conferencistas. Faz muita falta, a quem, como nós, está espalhado pelo mundo, receber estes "banhos" periódicos de informação qualificada.

Otimismo!

Pelo seu otimismo (com "p", mas lá o perderá, daqui a uns tempos...), gostei deste cartão do meu amigo João Paulo Bessa.

Leiam o seu blogue aqui.

domingo, janeiro 02, 2011

O outro défice

O cenário era o balcão do "Tosta Fina", o lugar geométrico dos grandes pequenos almoços em Vila Real. Ontem. Os interlocutores eram dois recém-trintões, bem na vida, seguramente com muitas cilindradas à porta.

- É pá, já viste o pessoal que marou em desastres? - disse um deles, mostrando uma notícia do JN sobre as vítimas de acidentes de tráfego desde o Natal.

- É, há muito gajo que não devia guiar. São uns nabos.

- Bom, estes já não guiam mais... (risos alarves duplos)

Pausa para o croissant com fiambre e o sumo de laranja. A bica final reabre a conversa:

- Onde é que foste no fim-de-ano?

- À Corunha.

- Como é que fizeste? Vieste por Chaves?

- Não, pá! Vim por dentro. Em Espanha é uma chatice, não se pode andar, têm bófia à toca por todo o lado, nas estradas. E aquilo é a doer. Só quando se chega à fronteira é que o pessoal pode largar. De Valença cá, foi um tirinho. E tu, onde foste?

- Fui à Estrela. Agora é fácil, com a A24. Consegue-se colar aos 200, muitas vezes. É sempre a bombar. E aqui não há chuis, é porreiro.

Quando me dizem que o principal problema português é o défice orçamental dá-me vontade de rir. Pouco.

sábado, janeiro 01, 2011

A linha branca

Aquele embaixador era conhecido pelo seu "mau feitio", pela sua tendência para uma fácil conflitualidade. Homem radicalmente conservador, era, no entanto, culto e inteligente, um profissional competente por quem eu me habituara a ter consideração. Também por outra razão: dizia sempre o que pensava, doesse a quem doesse. E isso é muito raro.

Quando entrei na chancelaria da Embaixada que ele chefiava, num certo país candidato a membro da União Europeia, fez-me alguma estranheza uma linha branca, com cerca de dez centímetros de largura, que atravessava o corredor, uns metros adiante do seu gabinete. Porque as minhas preocupações do dia eram maiores que a curiosidade, logo esqueci o assunto.

No dia seguinte, ao passar de novo pela Embaixada, não resisti:

- O que é aquela faixa branca, ali no chão?

- É uma linha de segurança - responde-me, sério, o embaixador.

- De segurança?

- Ao fundo daquele corredor fica o arquivo e o serviço de cifra. Os funcionários da Embaixada que não têm nacionalidade portuguesa não podem atravessar aquela linha. Quem o fizer, pode ter sanções disciplinares. Você perceba: no fundo, eles ainda são todos comunistas...

Olhando para a evolução política entretanto ocorrida naquele país, agora já membro pleno da União Europeia, deviam ser os últimos.

Paulo Lowndes Marques (1941-2011)

Tenho para ler, na estante virtual das obras em atraso, "O Marquês de Soveral - seu tempo e seu modo", a biografia do mais conhecido diplomata português na corte britânica, escrita por Paulo Lowndes Marques. Há dias, quando aqui falei brevemente das relações luso-britânicas, lamentei não ter o livro à mão. E não sei se o Paulo estaria 100% de acordo com o que publiquei, ele que era, sem a menor dúvida, uma das pessoas, em Portugal, mais conhecedoras do tema. E isso não me era indiferente.

Paulo Marques morreu hoje. Filho de uma cidadã britânica que refletiu, por escrito e de forma original, sobre a atitude dos seus concidadãos para com Portugal, Paulo Marques dedicou-se bastante à dimensão histórico-cultural desse relacionamento. Advogado de prestígio, foi um constante pilar para a manutenção da boa ligação entre os dois países. 

Conheci Paulo Marques quando ele foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, por um breve período. Anos mais tarde, quando fui para Londres, fui seu inquilino, arrendando um apartamento que aí possuía. Um dia, por uma razão que não vem ao caso, foi preciso mudar o contrato. Achei então que tinha de lhe dar algumas garantias acrescidas, pelo que lhe enviei um texto muito elaborado, com detalhes de alteração preciosistas. Paulo Marques telefonou-me e deu-me esta lição: "Por favor, Francisco, basta-me a sua palavra!".

Era assim, Paulo Marques, que deixará de mandar aos seus amigos, pelo Natal, a regular publicação com que celebrava a sua alegria de viver com os outros.

sexta-feira, dezembro 31, 2010

Europa - 25 anos

Faz hoje precisamente um quarto de século (já!) que Portugal ingressou nas então Comunidades Europeias, mais tarde chamadas União Europeia. 

Uma publicação do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal, intitulada "25 anos de Integração Europeia", a editar dentro de alguns dias, vai recordar esse trajeto.

Por lá deixo, como muitos outros, um curto depoimento, que intitulei "Os limites da integração": 

O pedido de adesão de Portugal às Comunidades Europeias foi a decorrência óbvia do novo curso político do país, no período subsequente à Revolução de 1974, pela necessidade sentida, por pressão das forças então emergentes como dominantes, de garantir que o Portugal democrático pudesse ganhar um espaço no seio de uma cultura política internacional de sucesso. Quem teve a força política para decidir essa opção sentiu que ela poderia, não apenas proporcionar apoios materiais a um mais rápido desenvolvimento económico e social do país, mas, igualmente, trazer um eficaz enquadramento para a consolidação, em moldes congéneres aos dos Estados já então membros, do modelo político que pretendiam implantar no país - assente em instituições democráticas e na economia de mercado. Não foi, por isso, uma opção política neutra, razão pela qual certos setores partidários então reagiram, porque pressentiram que ela iria condicionar definitivamente a dinâmica política do país.

A presença de Portugal nas instituições comunitárias acabou por ter um efeito muito importante sobre a nossa vida coletiva. Para além de induzir uma cultura de modernidade, nas mentalidades e no quotidiano material, bem como forçar algumas dinâmicas de reforma que o processo político interno dificilmente teria condições para gerar autonomamente, Portugal conseguiu com isso atenuar, embora não colmatar por completo, os efeitos do longo percurso de periferização, face ao centro europeu, a que a ditadura tinha condenado o país. Olhando em perspetiva, pode hoje concluir-se que, se acaso não tivesse ingressado nas instituições europeias em 1986, o nosso país teria tido necessidade de efetuar um esforço muito superior de adaptação, para poder integrar um dos alargamentos europeus posteriores, com muito menos vantagens materiais do que as que então obteve.

A experiência da nossa presença nas instituições europeias também nos mostra, contudo, que o voluntarismo tem os seus limites e que há idiossincrasias que não são mutáveis por mera pressão enquadradora externa, que há vícios e formas de comportamento que vão para além dos mecanismos políticos a cuja observância nos comprometemos. Se foi possível a Portugal introduzir as mudanças necessárias à adaptação ao Mercado Interno e à criação de condições sincrónicas para a entrada na moeda única, a verdade é que isso não induziu a interiorização de um cultura comportamental de rigor, suscetível de fazer perdurar no tempo, e maturar nos efeitos, as vantagens da nossa pertença ao “clube”. 

Olá, Bartolomeu!

Há uns anos, por estas horas, estaríamos a caminho das sintrenses escadinhas da Fonte da Pipa. A Fernanda já se tinha encarregado de preparar as sólidas vitualhas que alegrariam o nosso colesterol e, pela enésima vez, eu ter-te-ia pedido perdão por uma dessas noites te ter presenteado com um Chivas "marado". Depois, entraríamos na descoberta desse ambiente, sempre igual mas sempre diferente, que o teu incontável grupo de amigos constituía - da família aos que nela entravam, dos cineastas aos arquitetos, dos pintores aos senhores das letras, dos professores às "troupettes" da Slade, dos fotógrafos aos muito fotografados, dos simples mortais (como eu) aos generais (de abril, sempre!) e tantos e tantos outros, de alguns dos quais não conheci mais do que o sorriso. Pela meia-noite, no terraço, sobre o palácio da Vila, iríamos brindar e comentar o artifício dos fogos da autarquia, antes de passarmos ao sagrado momento do desvendar das papeladas do teu implacável arquivo, onde figurava o cartão com a "cunha" para o Spínola entrar no Colégio Militar (o que a história não teria sido, se a "cunha" não tivesse funcionado!). Depois, confiantes em que a BT da GNR se tivesse distraído na passagem de ano, lá rumávamos a Lisboa, já bem dentro do 1º de janeiro. Eram assim as mudanças de anos, há alguns anos, quando nós também tínhamos outros anos.

Mas isso era quando tu estavas por cá. Agora, a casa mudou de donos, tu mudaste de mundo e nós mudámos de saudades. Sei que a Fernanda deve continuar a dar-te notícias do que por aqui se passa, pelo que, como diria o Chico Buarque, só te quero dizer que "a coisa aqui está preta" (embora eu me interrogue sobre se ainda é politicamente correto utilizar expressões destas). Mas, e em linguagem que tu perceberás, estamos (quase) todos nos lugares do costume. E, embora os "amanhãs" agora por aqui já só assobiem, "a luta continua, a vitória é certa", para que lado é que não se sabe...

A imagem representa uma obra de Bartolomeu Cid dos Santos.

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Nós e o Rwanda

Anteontem, um visitante do Rwanda acedeu a este blogue. Com esta visita, passou a 138 o número de países de onde recebemos visitas, dentre os 192 Estados que existem no mundo.

Não vale a pena ter ilusões: a grande maioria das novas visitas internacionais computadas são fortuitas, provavelmente fruto de pesquisas no Google, que vêm dar por aqui por mero acaso e que não voltam a repetir-se. Esta é a sina natural de um blogue escrito em português. Na realidade, os leitores regulares deste blogue concentram-se, para além de Portugal, no Brasil, em França e em comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, para além dos nossos postos diplomáticos e consulares.

Mas, apesar disso, as 138 origens nacionais diferentes não deixam de representar uma interessante globalização destas coisas.

Já agora, aqui ficam os votos de um melhor ano para o nosso visitante do Rwanda, esse país africano marcado pela tragédia: felicidades, ou melhor, "umunezero", como se diz em kinyarwanda, a língua local.

Eduardo Azevedo Soares (1941-2010)

Ontem à noite, um amigo dizia-me que, na leitura deste blogue, achava dispensáveis algumas notas feitas por ocasião do desaparecimento de pessoas. Disse-lhe então que essa era uma forma que eu tinha de comemorar vidas que tinham valido a pena.

Há minutos, ao olhar a televisão, dou-me conta da morte de Eduardo Azevedo Soares. Conheci-o quando ele era secretário de Estado da Cooperação, em meados dos anos 80. Lembro-me do modo sereno como aturou algumas desnecessárias impertinências da minha parte, por altura da negociação da entrada de Portugal para a Convenção de Lomé III, num tempo em que eu andava algo agastado com a "casa". 

Foi depois ministro e passámos a ver-nos a espaços. Mais tarde, nas minhas idas como membro do governo à Assembleia da República, e embora colocado do outro lado da "barricada", Azevedo Soares foi de uma exemplar elegância e simpatia para comigo. Mantivémos sempre uma excelente relação pessoal e tive o privilégio de ter a sua palavra amiga num momento menos fácil da vida, a que se somou a sua ostensiva presença num certo ato público, quando a prudência lhe recomendaria a ausência. 

Eduardo Azevedo Soares era um "gentleman" na política, que exercia de modo sério e rigoroso. Talvez porque era, acima de tudo, um homem de bem e de bem com os outros e com a vida, sempre com um sorriso aberto, um amigo com quem trocava fortes abraços quando, como frequentemente acontecia, nos encontrávamos n' "O Comilão", esse campodouriquense lugar do nosso comum amigo Cardoso, que sei que sentirá muito a sua ausência.

Talvez este post ajude a pessoa com quem ontem falava sobre estas notas de despedida a perceber porque as não posso dispensar. Os mortos também fazem parte da nossa vida.

Uma carta recebida

Chegou-me esta carta, que aqui publico, sem comentários:

Meu caro amigo

Escrevo-lhe um pouco em desespero, esperando me possa ajudar, através do seu blog. 

Desde há meses, mas com insistência nas últimas semanas, sou alvo de uma insuportável campanha de calúnias. Não passa um dia sem que, um pouco por todo o lado, falem muito mal de mim. Não entendo esta embirração: ainda não iniciei a minha actividade e não há jornal ou comentador que, ao referir-se-me, não diga coisas como "vai ser péssimo" ou "esperem para ver como ele vai ser uma desgraça". Mesmo sem me conhecerem, alguns já consideram que me cabem culpas e me colocam no pelourinho. Detestam-me, com a certeza antecipada de que comigo nada correrá bem, que represento o que de pior se pode vir a imaginar. O que mais me choca é que me não dão uma simples oportunidade de provar o que posso valer. É verdade, meu amigo, ninguém me dá o menor benefício da dúvida (quase me fugia a tecla para "dívida", imagine!).

Ora eu espero que me possam medir à luz dos factos. Quero dizer-lhe, embora com modéstia, que é minha firme intenção poder ajudar a rectificar aquilo que alguns dos antecessores meus poderão não ter feito da melhor forma. Mas não quero ser eu a julgá-los, eles lá teriam as suas razões e - espero que compreendam! -  disso me não cabem quaisquer culpas. Não sei se virei a ser pior que os outros, mas deixem-me tentar provar que até posso contribuir para que algumas coisas fiquem melhor no futuro.

Por isso, apenas peço que me julguem no fim, que seja dado tempo ao tempo.  

(assinado) 2011

Em tempo: Esta missiva já provocou uma reação por parte da Dra. Helena Sacadura Cabral, que pode ler aqui. Nelas detetei uma parca generosidade, pouco de acordo com a época que atravessamos, devo dizê-lo.

O blogue dos 300

Com a adição, há poucas horas, de um novo "seguidor", passaram a 300 os amigos deste espaço que, de forma regular, têm acesso simultâneo à publicação de novos posts.

Aqui fica o meu abraço grato a quem tem a paciência de ler-me.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

"The oldest ally"

A "Inglaterra", nome por que comummente entre nós costuma ser tratado o Reino Unido (*), é o mais velho aliado de Portugal, por virtude da existência do Tratado de Windsor, de 1386, tido como o mais antigo no mundo. De facto, embora sempre por um elevado preço (muitas vezes, económico e financeiro), foi a regular associação a Londres que, por mais de uma vez, permitiu a manutenção de Portugal como um Estado autónomo - já hesitaria em dizer "soberano" ou "independente". 

Ao longo de séculos, na cultura estratégica portuguesa, o laço privilegiado com Londres esteve sempre presente e condicionou toda a nossa postura à escala internacional. A dependência face aos britânicos faz, assim, parte integrante da nossa história diplomática, prolongando-se pelo século XX, com o salazarismo a não escapar a este tropismo, quando a isso foi obrigado.

As Necessidades alimentaram e desenvolveram, naturalmente, essa linha de relação próxima. Quando entrei para o MNE, a perspetiva da existência de um entendimento privilegiado com Londres prevalecia no DNA de setores então dominantes da nossa diplomacia. Creio que ela dava mesmo origem a um certo "comodismo" seguidista, que, inicialmente, chegou a ter um prolongamento na condução de certas políticas sectoriais dentro da União Europeia. Mas, há que ser realista, com exceção dos temas e segurança e defesa, essa "tradição" perdeu-se hoje, quase que por completo. Sem querer com isto lançar uma teoria, mas apenas constatar um facto, sou levado a pensar que a total "naturalização" da nossa atual relação com a Espanha, somada a uma "europeização" da nossa atitude externa que a isso não é alheia, ajudou à diluição do laço específico que foi mantido com o Reino Unido, durante tanto tempo. O que só prova a importância da contribuição britânica, enquanto se mantiveram acesos os alertas "aljubarroteanos".

Uma outra questão, para a qual ainda não tenho uma resposta completa, é visão que Londres foi tendo dessa mesma relação com o nosso país. O declínio colonial de Portugal, com a saída do Brasil e com o diktat britânico na crise do "mapa cor-de-rosa", bem como a estabilização dos seus equilíbrios estratégicos no espaço intraeuropeu, que levaram o Reino Unido a aliar-se à França nos dois conflitos mundiais, terão desvalorizado progressivamente a importância do vetor de "controlo" sobre Lisboa. Complacente com a ditadura de Salazar (**), Londres soube escapar ao dilema que este lhe colocou aquando da invasão da Índia "portuguesa", ao procurar invocar a "Velha Aliança". Mais tarde, foi com incomodidade que os britânicos reagiram quando pretenderam obter facilidades logísticas para a sua operação de retoma das Falkland/Malvinas. Nessa crise, o MNE, pela hábil mão do secretário de Estado Leonardo Mathias, sugeriu que Londres o fizesse à luz do Tratado de Windsor...

Um dia, no início dos anos 90, quando trabalhava na nossa Embaixada em Londres, foi-me perguntado, durante uma palestra na "Canning House", se eu ainda acreditava na validade desse tratado. Respondi, com a maior sinceridade, que acreditava nele tanto como os ingleses...

Interessante para mim foi, mais tarde, verificar que, em certos meios internacionais, permanecia a ideia residual de que a diplomacia portuguesa ainda "dependia" essencialmente de Londres. Recordo-me, num contacto com jornalistas estrangeiros em Bruxelas, creio que em 1997, a propósito de uma iniciativa qualquer que eu tinha promovido no âmbito comunitário, alguém me perguntar se tinha "coordenado" a nossa posição com Londres, antes de a apresentar aos restantes parceiros. Fiquei siderado! Aliás, os tempos viriam a provar que, em muitas áreas comunitárias, as posições dos dois países viriam a afastar-se de forma muito significativa, por uma simples e natural divergência de interesses. Tenho presentes alguns momentos complexos, dos quais não esteve ausente a sensível questão timorense.

Tudo isto não significa que o Reino Unido não seja, nos dias que correm, um Estado com o qual Portugal mantém um excelente relacionamento, com o qual trabalhamos em forte identidade de ideias em muitos domínios - de que, como disse, o da defesa e segurança é, muito provavelmente, o mais significativo. Partilhamos imensos valores  e princípios comuns, mantemos uma leitura próxima da importância do laço transatlântico e, frequentemente, estamos juntos em certas linhas de política face a África. Mas tudo isto sem exclusivismos nem necessidade de relações de privilégio.

É na estabilidade deste quadro de relações que, às vezes, um embaixador pode fazer toda a diferença, trazendo para o país onde está acreditado a imagem de alguém que, não deixando de defender os interesses do seu país, sabe entender o dos outros, tendo sobre ele um olhar externo e simpático, o que acaba por se refletir de forma muito positiva sobre as relações bilaterais.

É esse o caso de Alex Ellis, o embaixador britânico que agora nos deixa, de quem já aqui havia falado, e que, há dias, deixou no "Expresso" esta lindíssima lista de "Coisas que nunca deverão mudar em Portugal":

"Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento é de pessimismo, não de alegria.  Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me,  em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal. 

1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos. 

2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.   

3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies  do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.   

4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.   

5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.  

6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi, no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.  

7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.  

8.  As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada, há quinze anos, deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.   

9.  A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado,  e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.

10.  Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.  

Então,  terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal."

Com muitos embaixadores como o Alex, por cá e por lá, a "oldest alliance" tem sérias hipóteses de ainda ser credível.



(*) Às vezes, faz bem lembrar estas coisas: a Inglaterra, com a Escócia e o País de Gales, constituem a Grã-Bretanha. Londres (que é capital da Inglaterra) é, também, a capital do "Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte"

(**) Sobre este tema, publiquei, já há muito: “The Opposition to the ‘New State' and the British Attitude at the End of the Second World War: Hope and Desillusion”, in “Portuguese Studies”, Vol. 10, King’s College, London, 1994

segunda-feira, dezembro 27, 2010

O "malho"

Desde que me conheço que me vejo rodeado de dicionários. O meu pai, em Vila Real, tinha dicionários de tudo e mais alguma coisa, de diversos franceses do século XIX (do Gregoire e os Vapereau ao excelente "de la Politique", de Block) aos clássicos Cândido de Figueiredo e Torrinha, passando pelos Lellos (ilustrados ou não). No meio dessa inumerável coleção, havia lá por casa dicionários espanhóis, ingleses, muitos de tradução entre línguas (algumas que nunca falei) e outros cuja utilidade prática verdadeiramente nunca descortinei. 

Com toda a certeza por via dessa saudável influência, desde cedo que comecei a ter os meus próprios dicionários. Lembro-me que ganhei o meu primeiro "Porto Editora" num concurso de cruzadismo e que foi a (depois) minha mulher quem me ofereceu, há bem mais de 40 anos, um fac-simile do "Littré". Aprendi a andar com eles sempre à mão (até nos carros), espalhados por todas as mesas onde trabalhei (e continuo a fazê-lo, porque ainda não acredito nos "on-line" e, muito menos, em alguns imbecis corretores ortográficos). Tenho dicionários um pouco de tudo: de verbos, de sinónimos, etimológicos, onomásticos, de provérbios e incontáveis volumes temáticos (muitos em inglês, francês e espanhol), para além dos óbvios Larousse e Michaelis. Trouxe, do Brasil, o Aurélio (o "Aurelião"), o Houaiss e, claro, o Caldas Aulete. Também tenho as dezenas de volumes da Encyclopaedia Britanica e a Luso-Brasileira  (mas não a da Verbo, com que, desde sempre, embirro), com as respetivas atualizações (até que o bom-senso e a falta de espaço me levaram a parar). E tantos, tantos outros dicionários, enciclopédias e quejandos.

Mas toda esta conversa vem a propósito do "malho". Na minha família o "malho" designa os 12 volumes do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de António de Moraes Silva, na sua 10ª edição, que o meu pai assinara em fascículos durante mais de uma década. Desde miúdo que me habituei a consultá-lo, para ajudar o meu pai e o meu avô nos exercícios de palavras cruzadas, nas noites antigas, em que a televisão nos não monopolizava. Quando a dúvida se instalava sobre um determinado significado, o meu pai dizia, em jeito de desempate definitivo: "vamos ao malho". E eu, impante, encarregava-me com ardor dessa tarefa - de um modo que me levou mesmo a saber de cor as palavras iniciais e finais de cada um dos volumes, inscritas nas lombadas. O "malho*", na sua bela encadernação de couro com ferros dourados, continua a ser o dicionário-rei da minha casa, por mais novos dicionários de língua portuguesa que por aí apareçam - mas que eu não deixo nunca de comprar, sempre...

Mas o (agora) meu "malho" remete para uma historieta curiosa. O meu pai havia mandado encadernar os primeiros seis volumes do "malho" ao sr. Morais (homónimo do autor do dicionário), um dos escassos (mas o melhor dos) encadernadores de Vila Real. Saíu "obra asseada", porque o artesão era excelente, embora um tanto lento.

Uns anos mais tarde, acabada que foi a publicação da totalidade dos fascículos, o meu pai informou o sr. Morais de que estavam prontos para ser encadernados os restantes seis volumes. E aí surgiu uma surpresa desagradável: o homem disse que já não se dedicava a trabalhos tão elaborados, que há muito que havia deixado de utilizar os "ferros" da anterior encadernação e, pedindo embora muita desculpa, informou que não podia levar a cabo a tarefa. O meu pai ficou desolado. Que poderia fazer? A obra ficaria incompleta e não conhecia ninguém capaz de substituir o Morais. Estávamos nos anos 60 e recordo bem do desgosto com que o meu pai falava do assunto em casa.

Na tertúlia diária da Pastelaria Gomes, curiosamente a escassos metros da (então) loja do sr. Morais, o meu pai contou um dia o seu problema a um grupo de amigos. Desse cenáculo fazia parte o comandante da PSP de Vila Real, que logo se prontificou a ajudar: "Não se preocupe. O meu amigo vem comigo ao Morais e o assunto resolve-se já". E lá partiram, o meu pai e o comandante da PSP, rumo ao encadernador. 

A cena que se segue é edificante e bem reveladora dos tempos de então:

- Ó Morais, então o meu amigo não quer acabar a obra que começou?

- Sabe, senhor comandante, já me deixei desses trabalhos mais pesados. Agora estou mais nas revistas e nas encadernações simples.

- Essa agora! Ao iniciar uma obra, um profissional compromete-se a acabá-la. Isso é uma falta grave, ó Morais. Olhe que pode vir a ter problemas...

E, perante o espanto (e o deliciado constrangimento) do meu pai, e graças a este método de (pouco subliminar) convicção, o Morais lá acedeu a acabar o trabalho. Dizia-me o meu pai que ele acabou por se vingar... no preço. Mas o "malho" ficou completo.

* E na pag. 422 do VI volume, lá está a definição de "malho" como"coisa certa, infalível".

Fora da História

Seria melhor um governo constituído por alguns nomes que foram aventados nos últimos dias mas que, afinal, acabaram por não integrar as esco...