terça-feira, outubro 09, 2012

Nuno Grande (1932-2012)

Alguns comentadores e leitores começam a ficar cansados de verem este blogue transformado num regular registo necrológico. Podem crer que eu também. E, em particular, estou cansado de ver desaparecer pessoas que, por uma ou outra razão, considero merecerem, na hora da sua partida, este registo mínimo de admiração e respeito.

Hoje, soube-se da morte do professor Nuno Grande. Para além da sua relevante atividade académica, era um cidadão de corpo inteiro, com uma intervenção cívica de grande rigor e coerência.

Encontrámo-nos algumas vezes e lembro-me de partilharmos a recordação de, em tempos diferentes, ambos termos feito a nossa instrução primária na antiga escola Conde de Ferreira - a "escola do trem" -, em Vila Real.

domingo, outubro 07, 2012

Reuniões temáticas

O SMS, recebido na tarde da passada sexta-feira, da minha jovem "oficial de ligação" (pertencente ao "ask me team", aposto nas costas das respetivas t-shirts, que com imensa simpatia nos assiste) era bem claro: "You are requested to a meeting at 4 pm with the Minister of Agriculture of Azerbaijan". Seguia-se um endereço em Baku, escrito em azeri. Olhei para o relógio e faltava menos de uma hora. Interrompi a reunião em que participava e, com um condutor arrancado à organização, que só entendia a língua local, zarpei para o encontro.

Pelo caminho, fiquei a matutar no que poderia dizer ao ilustre anfitrião. Seria alguma coisa de natureza bilateral, aproveitando a minha passagem por Baku? O meu ministro tinha passado por aqui há alguns meses. Teria ficado algo pendente? Algum "protocolo de cooperação" por cumprir? Porque não gosto de "brincar em serviço", e embora a embaixada portuguesa competente neste país seja a que está situada em Ancara e o Fórum em que eu participava nada tivesse de bilateral, antes de sair de Paris eu tinha pedido ao MNE um papel sobre o relacionamento Azerbaijão-Portugal. "À cause des mouches", como dizia um amigo meu "versado" em francês. Estudara-o e, como mandam as regras, deixara-o prudentemente em Paris. Mas não me recordava de nele se falar de agricultura. Ou seria a minha memória?

A agricultura não é propriamente o meu "forte", mas, porque a diplomacia se transforma, quando as coisas assim o exigem, numa nobre arte do desenrascanço elegante, fui preparando algumas ideias para a conversa com o governante azeri, à medida que o meu condutor furava pelo tráfego infernal da cidade, ungido do dever, e dos fantásticos direitos rodoviários correspondentes, de transportar uma personalidade estrangeira ao seu governante.

Talvez viesse à baila a questão da próxima revisão da PAC e a onda protecionista que se avizinha, com o alibi da "segurança alimentar" europeia. Ou seriam as nossas experiências nacionais, em especial em matéria de extensão rural, que mobilizavam a curiosidade de Baku? Ou talvez pudesse surgir na conversa algum "memorando" de colaboração entre universidades (interesseiramente, lembrei-me da UTAD). Logo se veria. Tomaria nota do que me fosse dito e informaria Lisboa (e a nossa gente em Ancara, claro).

Cheguei sobre a hora à porta do imenso edifício do ministério. Um engravatado funcionário esperava-me, com olhar ansioso. Apressados, subimos por um elevador, depois seguimos por um longo corredor, até entrar numa sala de reuniões.

Para minha imensa surpresa, por lá estavam o grupo de colegas embaixadores junto da UNESCO, que comigo tinham vindo desde Paris. Todos tinham recebido o mesmo SMS e tinham saído das suas reuniões da mesma forma apressada que eu. E o encontro que estava prestes a começar era, muito naturalmente, com o ministro azeri da ... Cultura, com o qual discutimos temáticas que se prendem com as nossas tarefas na UNESCO.

sábado, outubro 06, 2012

Fundações

Na razia das fundações que por aí vai, li o nome da "Fundação maestro José Pedro", em Viana do Castelo, como uma das que poderia acabar. Não lhe conheço a história, nem tenho a menor ideia sobre se a sua atividade tem maior ou menor mérito. Mas, confesso, preocupa-me o seu destino.

Porquê? Porque o edifício que ocupa foi o local onde, até aos meus 17 anos, passei todas as minhas "férias grandes". Andei muito por ali, por aquela casa para onde os meus avós paternos vieram viver, em 1912, chegados de Ponte de Lima. 

Conhecia todos os cantos àquela casa. Com a curiosidade de um visitante regular que, da infância à adolescência, ia mudando de interesses, explorei-lhe todos os lugares, sabia onde "iam dar" alguns falsos armários, que eram misteriosas ligações entre espaços longínquos. No imenso quintal, depois reduzido por opções imobiliárias, tenho algumas das minhas primeiras fotos. A "loja", com solo térreo, que tinha zonas onde ninguém ia, não tinha segredos para mim. Recordo a grande sala do 1º andar, com um teto magnífico, onde estava pintada uma cena da mitologia grega, lembrando a que fora sala de música. A casa havia sido um colégio e, no 2º andar, ainda havia números nas portas de alguns quartos. No alto do edifício havia, nesse tempo, a "torre", um saguão para onde se subia por uma escada esconsa, lugar onde havia de tudo, com bela vista para a doca e para o largo onde se fabricavam as cordas, para o qual eu era atraído em muitos desses meses de agosto. Tenho na memória, talvez mais presente porque era o local diferente daquele onde eu vivia o resto do ano, uma imensidão de momentos percorridos por aquelas salas, com os meus pais e com a minha avó (o meu avô morrera já em 1922), com os meus tios e primos, em tempos muito diversos, com alegrias breves de infância, edulcoradas pela seletividade da memória, com outros menos agradáveis, determinados pelas leis da vida.

Hoje, quando por lá passo (e passo muito por lá), olho aquelas janelas onde por muito tempo apareciam, sentadas nos bancos de pedra que moldavam o interior das janelas do topo, a minha avó Filomena e a minha tia Zé, que o meu pai designava pelo "comandante" e "imediato" desse que sempre foi o barco da sua saudade eterna, no seu agradável exílio transmontano. Há algumas décadas que não entro naquela casa, através da bela escadaria de pedra do largo Vasco da Gama ou da escada elegante da rua dos Rubins.

Nesta estranha questão que envolve as fundações, verdadeiramente, só tenho esta preocupação. Fica aqui esta declaração de interesses, "à toutes fins utiles".

sexta-feira, outubro 05, 2012

Margarida Marante

Para uma certa geração que acompanha(va) com atenção a política portuguesa, Margarida Marante foi uma figura mediaticamente saliente. Talvez haja sido das pessoas a quem vi construir algumas das melhores entrevistas políticas feitas na televisão portuguesa. Notava-se que as preparava com imenso cuidado e a prova do seu sucesso era a regular inquietude que provocava nos seus interlocutores, que tratava com uma displicência que chegava a raiar a provocação. Admirou-me sempre o risco assumido pelas televisões ao colocarem uma jornalista tão jovem nesses exercícios de grande responsabilidade. Dos quais, diga-se, nunca a vi sair mal, embora não raramente eu próprio me irritasse imenso, porque ela deixava bem claro que sempre esteve longe daquilo que eu próprio pensava.

Falei pessoalmente com Margarida Marante poucas vezes. Recordo uma noite, mais longamente, num jantar em casa de amigos comuns. Não me pareceu uma pessoa de feitio fácil, nem sequer mobilizadora de uma automática simpatia - e seria fácil não o dizer, no dia seguinte àquele em que sei da sua morte. Era uma mulher muito bonita, mas percebia-se que se recusava em absoluto a abusar disso. Depois de ter lido, há tempos, alguma coisa sobre os seus problemas pessoais, só posso lamentar ver uma pessoa com o seu talento desaparecer tão cedo, muito provavelmente "desta vida descontente".

Realidade virtual

Não é fácil dizer alguma coisa muito original num debate sobre "Novas aproximações metodológicas para o processo de globalização no século XXI". É um tema complexo, marcado pela interpenetração de teorias, por vezes um tanto dispersas e de discutível fundamento e compatibilidade, em especial para quem, como eu, não vem do mundo académico. Mas temos de convir que um certo "caos" faz sempre parte deste tipo de exercícios, neste caso moderado por um prémio Nobel de Stanford, Robert B. Laughlin.

Neste imenso Forum, que tem lugar em Baku, capital do Azerbaijão, sendo o único português nestes quase 700 participantes, não me arrisco a tentar ser excessivamente criativo, pelo que apenas me dedicarei a sublinhar algumas coisas de bom senso, que justifiquem o convite que me fizeram para aqui vir, na qualidade de representante português na UNESCO.

Este tipo de reuniões é sempre um tempo de encontros inesperados, com conhecidos de outras andanças, a quem, por tradição, tendemos sempre a tratar como velhos amigos, como se comprova pelos generosos abraços trocados. Coisa que voltará a acontecer quando, em futuros contextos, viermos a cruzar com gente com quem agora por aqui trocámos impressões (e e-mails) pela primeira vez. Este é um ritual deste tipo de reuniões, que dá a alguns a impressão de pertencer a uma espécie de tribo, quando, na realidade, apenas fazem parte de um tecido desintegrado de "routiers" da palavra. Uma das comunicações desta manhã define tudo: "Transculturalismo e realidade virtual". É mais ou menos isso.

Bartolomeu

Vais hoje ter uma placa nas Escadinhas da Fonte da Pipa. Com a Fernanda e os amigos por lá. Imagino o que tu te ririas, Bartolomeu, se, há uns anos, falássemos disso, da ires ter uma placa numa parede. Vá lá! Se calhar, até achavas graça, mas alvitrarias, pela certa, para chocar alguns, que gostavas que desenhassem a foice e o martelo no retângulo de mármore. Não te fazem essa vontade, mas, descansa, também ninguém põe lá nenhuma setinha... Não sei se a pedra é de Pero Pinheiro, onde aculturaste as "troupettes" da Slade às gravuras da pátria. Mas é capaz de ser. A data foi bem escolhida: 5 de outubro. Lembra a imensa memorabilia, verde e vermelha, principalmente vermelha, que juntaste por décadas naquela casa. Ao longe, do terraço, vislumbrava-se o mar por onde o último Bragança com trono, que, coitado, nem sequer era o pior deles todos, embarcou para a "pérfida" terra do teu (e, por tua culpa, também meu) Crabtree. Mas por que raio estou eu para aqui a escrever-te, do Azerbaijão (é verdade, Barto, ando por aqui, por Baku, por mor da UNESCO que me calhou em rifa), algo que só uns "happy few" entendem? Olha!, porque hoje me deu para isto, para te mandar um abraço muito republicano...

Para todos os outros, aqui fica tudo numa só frase: hoje, em Sintra, será afixada uma placa evocativa, na casa que foi propriedade e onde viveu o gravurista Bartolomeu Cid dos Santos, antigo professor na Slade School of Fine Art, em Londres, cidade onde faleceu há quatro anos.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Voos

Já não passava pelo aeroporto de Frankfurt há alguns bons meses. Ontem, ao perder por ali algumas horas, esperando ligação para um destino bastante distante, cruzei-me mentalmente com um tempo em que, invariavelmente, por lá andava quase todas as terças-feiras, a caminho de Lisboa, vindo de Bruxelas, em anos em que, nesse dia da semana, não havia voo direto ao fim do dia e em que eu tinha a negociação do tratado de Amesterdão sob a minha responsabilidade.

Frankfurt é um dos mais movimentados aeroportos do mundo e, com a sua dimensão, tornou-se hoje extremamente desconfortável, não obstante a inegável eficácia do serviço que presta. As distâncias a percorrer são imensas e há um "stress" no ar que não é nada saudável. 

Ao andar por aqueles longos corredores, foi inevitável recordar o cansaço daqueles fins de tarde dos anos 90 e, em especial, o padecimento por que passava um colaborador e grande amigo meu, hoje embaixador num "hotspot", cujo perfil físico sempre causava insuperáveis suspeitas aos homens da segurança, que o obrigavam, para gozo dos restantes acompanhantes, a um "strip-tease" num reservado, do qual saía a bufar, com imprecações impublicáveis e comentários que faziam regressar os alemães a tempos por eles esquecidos.

Assim, ao calcorrear aquele aeroporto, por áreas bordejadas daquilo que para alguns ainda são tentações consumistas, dei comigo a dar graças por ter-me libertado, de há muito, da vida de viajante aéreo regular. Ainda me recordo do tempo em que viajar e passar por aeroportos tinha um certo "glamour" e funcionava como um sedutor choque de cosmopolitismo. Hoje, com a hiper-segurança, com as limitações e os controlos, viajar de avião tornou-se numa grande chatice. Por vezes inevitável, como ontem me aconteceu. 

A Ordem, os advogados e os diplomatas

No número correspondente a agosto/setembro deste ano, o Boletim da Ordem dos Advogados publica uma entrevista comigo que me atrevo a pensar que pode ser do interesse de alguns leitores deste blogue.

terça-feira, outubro 02, 2012

Ir embora


Os tempos eram outros, as figuras que, por Portugal, faziam política também. Pouco dados ao mundo internacional, muitos tinham, como costumava dizer (cito de cor) o meu amigo Nuno Bredorode Santos, a fronteira do Caia como limite à sua livre expressão linguística. Alguns, como o Eça referia, cuidavam em falar "patrioticamente mal" certas línguas estrangeiras. Outros, nem isso podiam ou tentavam. Esta história é sobre um destes últimos.

O ambiente era um aeroporto de uma capital estrangeira, no termo de uma visita oficial, feita sempre com intérpretes à ilharga. As despedidas estavam como que concluídas, a delegação portuguesa tinha já embarcado e, como é de regra, o convidado seria o último a partir. Por uma qualquer razão, as coisas tinham "emperrado" e ninguém dava indicação para ele entrar no avião. O anfitrião, com quem, ao longo desses dias, falara através de um intérprete, e nitidamente apenas para encher o tempo com algo mais do que sorrisos ou gestos, disse ao nosso homem umas palavras em inglês. O intéprete desse país tinha-se sumido, e quem, da nossa parte, era por isso responsável também já tinha embarcado.

Porque vi o nosso político um tanto embaraçado, face ao comentário do seu anfitrião, que não percebera ou ao qual não sabia como responder, aproximei-me e, em voz baixa, disse-lhe "Se quiser que traduza alguma coisa...". O nosso homem olhou para mim, muito sério, e apenas retorquiu: "Eu quero é ir-me embora!". Contive o riso, fui avisar o protocolo e, um minuto depois, ele lá embarcou, de regresso à terra onde tinha as mais amplas liberdades linguísticas. Que não usava muito, valha a verdade.

Da inveja

Deve ser defeito meu, mas não me deixo impressionar pela campanha populista de alguns jornais quando falam das "reformas milionárias" de alguns trabalhadores do funcionalismo público. É muito mau sinal quando uma sociedade, em lugar de se preocupar com o que os mais pobres não têm, vive obcecada com aquilo de que os mais afortunados beneficiam. Chama-se a isso inveja. Digo isto com todo o à-vontade de quem não virá a estar abrangido por "reformas milionárias" e que, por ora, não tem outros réditos senão aqueles que ganha com o seu trabalho. 

Acho muito curioso, e demonstrativo de um certo espírito nacional, adubado pela crise, que se "condenem" no pelourinho mediático os trabalhadores que, ao fim de uma vida de carreira contributiva, tendo visto descontados, mês após mês, dos seus salários, montantes que engrossaram os fundos da Caixa Geral de Aposentações, passam a receber as retribuições correspondentes a esses descontos - sejam elas de que montantes forem.  

Dentro do Ministério dos Negócios Estrangeiros, reagi sempre quando vi colegas diplomatas a reclamar pelo facto de alguns funcionários administrativos, das embaixadas ou dos consulados, terem uma reforma bem superior à sua. Se descontaram mais, recebem mais. Tão simples como isso.

O Estado não faz nenhum favor ao pagar aos reformados da função pública, nem lhes está a conceder qualquer direito especial. Pelo contrário: deve-lhes é estar grato pelo facto de poder ter utilizado, durante décadas, sem pagar quaisquer juros, o dinheiro que essas pessoas lhe confiaram, sob o compromisso de que, quando deixassem o serviço ativo, seriam remunerados em função daquilo que descontaram.

Ainda neste contexto, a presente crise proporciona-nos encontros educativos. Há dias - e podem acreditar no que lhes vou dizer - ouvi da boca de alguém o seguinte raciocínio: dado o "peso" que o pagamento das reformas hoje representa para o orçamento e tendo em especial atenção o facto dessas pessoas não terem uma elevada capacidade reivindicativa (não podem fazer greves, por exemplo), é "perfeitamente natural e legítimo" que se caminhe no sentido de fazer incidir sobre os reformados e respetivos rendimentos os cortes orçamentais a efetuar. Falou mesmo deles como "alvos prioritários".

Isto foi dito por essa pessoa num tom frio, desprovido de qualquer emoção. Não sei se há alguma edição atualizada do Malthus para ajudar a gente que pensa dessa forma a, já agora!, teorizar melhor estas ideias. Na altura en que ouvi aquilo, sei lá bem porquê!, veio-me à memória o título de uma peça de Karl Valentin que um dia vi encenada na Cornucópia. Mas, entretanto, já me esqueci dele (do título, claro)...

segunda-feira, outubro 01, 2012

Femininas e masculinos

Há meses, na antecâmara de um almoço, ouvi um secretário de Estado francês chamar a uma colega minha "madame l'ambassadrice". A embaixadora reagiu, com elegância, e disse que não era "ambassadrice", porque essa é a designação para a mulher de embaixador, pelo que devia ser chamada por "madame l'ambassadeur". Ela talvez tivesse razão, mas o governante limitava-se a seguir aquilo que é, por aqui, uma prática comum: designar por "ambassadrice" quer as mulheres embaixadoras, quer as cônjuges dos embaixadores, que, na língua portuguesa, são embaixatrizes. O que, de facto, aqui em França, provoca alguma confusão.

Há três dias, no parlamento francês, um deputado dirigiu-se à ministra da Habitação como "madame le ministre". A ministra reagiu e exigiu ser tratada por "madame la ministre". Neste caso, o deputado limitou-se também a seguir a regra tradicional.  Para a ministra, como a palavra não muda de género, só o artigo pode mudar.

Em Portugal, recordo-me ter havido um ligeiro debate quando Maria de Lourdes Pintasilgo foi indicada para a chefia do governo, em 1979. Por uns dias, discutiu-se se era "primeiro ministro" ou "primeira ministra". Venceu a segunda fórmula, com naturalidade. Já a decisão de Dilma Russeff de ser chamada de "presidenta" provocou várias reações, mais em Portugal do que no Brasil, ao que me pareceu.

Esta femininização dos nomes parece-me natural e não me choca, embora eu seja pouco permeável ao "politicamente correto". Mas hoje, não deixei de ficar ficar curioso, ao ler este comentário...

Notícias da bola


Num largo de Barcelos, à saída da "Bagoeira", no mês de Agosto de 1975, vi três fulanos que me pareceram excessivamente "interessados" na parte traseira do meu Fiat 128. Aproximei-me e perguntei o que se passava, identificando-me como proprietário do automóvel. Com ar bastante calmo, um deles olhou para mim e disse: "Estamos a discutir se havemos de partir o vidro ou 'arrebentar' uma das portas". "Essa agora!, porquê?", perguntei. "Porque temos de arrancar esta bola vermelha", apontando para um pequeno autocolante, com o símbolo do MES, que eu tinha no canto do vidro. E olharam para mim com um ar neutro, que revelava alguma ameaça e a segurança da total impunidade para a levar à prática.

Não valia a pena estar com muitas conversas. Os tempos eram tensos, em especial nessas bandas do Minho, onde o MDLP, associado a setores da igreja, contestava abertamente os caminhos da Revolução. Tudo o que "cheirasse" a esquerda era por ali reprimido, com sedes de alguns partidos a arder (num caso, com gente a morrer lá dentro), com bombas a matar pessoas, com simpatizantes de algumas forças políticas desse setor a serem perseguidos. A polícia e alguma tropa fazia de cega, quando não acontecia, como muitas vezes aconteceu, colaborar na "festa". Nesse "verão quente" o diálogo não era a palavra de ordem mais ouvida.

Com assumida cobardia, fui dizendo: "Bem, eu estou de saída, ia agora tirar o carro". Os fulanos entreolharam-se. Um deles disse: "Se o tirar já, não partimos o vidro. Mas não queremos ver por aqui gente como você". E lá me fui embora. Dessa vez, porque volto sempre com grande prazer a Barcelos, uma belíssima cidade.

O autor da "bola vermelha", da cor dos cravos que esses barcelenses não apreciavam, com uma estrela amarela que simbolizava o que isso sempre quis dizer para quem então pensava as coisas de uma certa maneira, era Robin Fior, que acabo de saber que morreu ontem. 

Não tenho ideia de alguma vez o ter encontrado até ao ano passado, quando, no dia 12 de novembro, lhe fui apresentado na Costa da Caparica, onde, com algumas centenas de amigos e conhecidos, me reuni numa alegre almoçarada, que assinalou a passagem de três décadas sobre o termo da existência do Movimento da Esquerda Socialista (MES).

À sombra dessa bola e dessa estrela, juntámos, nesse tempo, o nosso entusiasmo e demos expressão política a setores de uma geração que, não se revendo nas correntes mais óbvias da esquerda, decidiram criar um movimento um tanto atípico, que nunca agradou ao partidos clássicos e que, por alguns anos, agitou as águas da vida política portuguesa. Resta a memória, que, para sempre, será ajudada pela arte de Robin Fior.

(Em tempo: que fique claro que não desconheço que, se o símbolo do CDS, do PSD ou até do PS surgisse, em situação idêntica, por esses tempos, em automóveis estacionados em certas localidades alentejanas ou da "cintura industrial" lisboeta, o seu destino seria similar. O "verão quente" afetou o "clima" político por todo o país.) 

Armando Marques Guedes (1919-2012)

Quando um dia, no ISCSPU, concluí a disciplina de Direito internacional público, que ele regia, com 13 valores, o professor Armando Marques Guedes chamou-me e disse-me: "Prometa-me que volta na segunda época. Não percebo esta sua nota. Você precisa de 'subi-la' ".

Não lhe fiz a vontade e só voltámos a falar do assunto alguns anos depois, no dia em que o voltei a encontrar, no júri de admissão ao MNE. Disse-me então, nos claustros das Necessidades, com alguma ironia: "Se você 'passar' nesta entrada para o MNE, acabará implicitamente por 'subir' aquela má nota que teve em Direito internacional público". Lembro-me de ter ficado surpreendido e um pouco orgulhoso por ele se ter lembrado. E, de facto, "passei", num júri em que tive também, como arguente, na área da Economia Política, um professor que dá pelo nome de Aníbal Cavaco Silva. Ambos me aprovaram.

Nos meus tempos do ISCSPU, dizia-se que Armando Marques Guedes tinha tido um dissídio com Marcelo Caetano na faculdade de Direito e que, tal como Adriano Moreira, tinha posteriormente seguido um percurso académico algo solitário. Era um homem muito agradável, de trato fácil, embora sempre me parecesse um aristocrata na vida universitária - com a leitura positiva que esta qualificação pode, às vezes, ter. Já o tinha encontrado na cadeira de Direito Administrativo, em que nos dava aulas com exemplos de grande sabedoria e uma procurada e hábil distanciação face aos tempos políticos que se viviam, nesse final dos anos 60. No que recordo, tenho-o por um professor rigoroso, que era por nós bastante respeitado, mesmo no seio de quantos eram academicamente mais "agitados", grupo do qual eu fazia (naturalmente) parte. Já o não via há muitos anos.

Acabo de saber do seu falecimento, com a bela idade de 93 anos. Deixo aqui um abraço sentido ao Armando, seu filho e meu amigo.

sábado, setembro 29, 2012

UTAD

Decidi colocar ontem um ponto final à colaboração que, desde 2009, prestava à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), saindo do respetivo Conselho Geral, a que presidia. Fui acompanhado nesta decisão por um grupo de outros membros da sociedade civil, oriundos de diversos setores exteriores à universidade, que, para aquele órgão e tal como eu, haviam sido convidados.

Foi um trabalho muito interessante, uma tarefa onde, de forma desinteressada, com algum custo pessoal, procurámos ajudar a refletir sobre uma estratégia nova para a universidade, capaz de lhe permitir enfrentar as grandes dificuldades com que hoje se debate. Porém, numa reflexão conjunta, acabámos por concluir que persiste na UTAD uma inércia e uma resistência à mudança que torna sem sentido a nossa participação. Tal como dissemos no documento em que assumimos a nossa demissão, esperemos que outros tenham "mais arte e mais sorte para ajudarem a dar um novo rumo à UTAD, que permita a sua sobrevivência e o seu progresso".

A UTAD é uma excelente universidade, dispõe de um prestígio e de uma qualificação em certas áreas técnicas que pede meças a outras instituições congéneres, mas necessita urgentemente de concentrar os seus recursos naquilo que melhor sabe e deve fazer, à luz da sua história educativa, evitando alimentar uma dispersão que se arrisca a degradar a sua imagem. Para a afirmação da UTAD no tecido universitário português impõem-se, na nossa perspetiva, séria ruturas e algumas drásticas mudanças. E a vontade para as levar a cabo, a nosso ver, não existe.

Não foi sem alguma pena que tomei esta decisão, relativa à universidade da minha terra. Porém, estou certo de que quem conhece a UTAD e a sua situação perceberá o porquê deste gesto.

sexta-feira, setembro 28, 2012

Política externa

Jaime Gama vai proferir uma conferência no Ministério dos Negócios Estrangeiros, sob o tema: "Franco Nogueira - argumentação e obstinação". Tenho pena de não poder estar presente nesta evocação, que, de forma singular, reúne duas das figuras mais marcantes da política externa portuguesa do século XX.

Lembrei-me ontem de Jaime Gama ao ler as primeiras páginas do livro que o conselheiro especial de Nicolas Sarkozy, Henri Guaino, acaba de lançar. Guaino revela que, numa reunião com os seus colaboradores, após a derrota de maio, Sarkozy terá dito: "Não tenham azedume, não se constrói nada sobre o azedume".

A minha recordação prende-se com uma vitória: a eleição de Portugal para o Conselho de segurança da ONU, em 1996. Na sequência dessa dura campanha, numa conversa com Jaime Gama, eu expressei a vontade de tirar algum desforço por virtude da atitude assumida por alguns países, que militantemente haviam trabalhado contra a candidatura portuguesa. Gama disse-me: "Claro que não vamos esquecer o que se passou, mas, a partir de agora, na relação com esses países, vamos recomeçar como se nada disso se tivesse passado. Uma política externa não se constrói com base em ressentimentos".

Tinha imensa razão.

Ainda o 28 de setembro

Já falei neste blogue, por mais de uma vez, do dia 28 de setembro de 1974 (em especial aqui e aqui). 

Recordo hoje um episódio vivido na sequência dessa data marcante para a Revolução portuguesa.

O general Spínola, presidente da República, na ressaca dos acontecimentos e das manifestações desse dia, havia convocado o Conselho de Estado, para 30 de setembro. Fora anunciado que, nessa altura, faria uma comunicação ao país, em transmissão pela televisão e rádios, diretamente de Belém.

Eu estava pelo palácio da Cova da Moura, onde era adjunto da Junta de Salvação Nacional, a que Spínola presidia e que, como tudo indicava, acabaria em breve a sua existência. Juntámo-nos uns tantos, de tendências político-militares bastante diversas e até antagónicas, em torno de um televisor, para ouvir a intervenção do chefe de Estado.

Os tempos eram muito tensos, o ambiente político era de cortar à faca. Naquela sala estava gente cujo futuro iria ser, a partir desse dia, muito díspar. Lembro-me que havia por lá um general, regressado de Angola, que sabíamos ser um "spinolista" ferrenho, que estava acolitado por figuras que não conhecíamos, com cara patibular, de quem tinha ficado do lado dos derrotados nas batalhas das vésperas. Todos antecipávamos as palavras do "velho" (como os "spinolistas" gostavam de chamar à sua figura tutelar). A ideia mais comum era a de que se demitiria em direto das funções, mas outros cenários, nomeadamente de alguma "resistência" à recente derrota nas ruas dos seus apaniguados, ainda eram plausíveis.

O discurso começou, com a voz rouca do general, naquele registo épico e um pouco teatral que era o seu, a dramatizar, como era de esperar, a situação política, na exata linha das suas anteriores frustradas tentativas de fazer levantar a suposta "maioria silenciosa" do país. O diagonóstico que saía da sua boca era ácido e impiedoso para os vencedores dessas horas. Todos olhávamos o aparelho de televisão mas, verdadeiramente, policiávamo-nos pelo canto do olho, sabendo que cada um "lia" as palavras de Spínola de forma diferente. Para mim, como militar "a prazo", que me via do lado vencedor da contenda, o momento era excitante.

A certo passo da intervenção, mas ainda antes do anúncio da demissão do "caco" (como Spínola também era conhecido, por virtude do seu monóculo), um homem da Marinha, o Duarte Lima (não, não é esse!), não se conteve e fez ecoar pela sala alguns adjetivos qualificativos, muito pouco abonatórios do presidente da Junta de Salvação Nacional, a cujos quadros pertencíamos e em cuja sede estávamos. Praticamente, ninguém o acompanhou na expressão vocal dos sentimentos que o motivavam, os quais, no fundo mas apenas no íntimo, eram partilhados pela maioria dos presentes. Mas, com os diabos!, Spínola era um derrotado daqueles dias e havia outras maneiras de "explorar o sucesso", tanto mais que "não se dispara sobre ambulâncias". O Duarte Lima, porém, estava imparável, indignado com os ataques de Spínola ao MFA, e não se calava, nos insultos que ia proferindo, em crescendo. O general, a alguns metros dele, fervia de raiva, potenciada pela impotência que Spínola confessava no seu discurso. Os seus escassos acompanhantes remoíam em silêncio.

Quando tudo terminou, quando Spínola anunciou a sua demissão, todos nos levantámos, ainda um pouco aturdidos com o início de uma nova fase da Revolução que o seu gesto prenunciava. O tal general, lívido, passou pelo Duarte Lima e, num assomo de autoridade, lançou-lhe: "Você devia ter vergonha sobre o que disse". A compostura militar impôs-se e o Duarte Lima não reagiu. Ou melhor: deixou sair da sala o superior e comentou para nós: "Estive para o mandar à ....". Mas não mandou. E ainda bem.

quinta-feira, setembro 27, 2012

Discrição

Era um colega muito simpático, excelente profissional, mas algo distraído - alguns diriam "despassarado". 

Um dia, intervinha numa reunião comunitária, em Bruxelas, a propósito de um assunto com alguma delicadeza. A posição que Portugal defendia perante a Comissão europeia era partilhada por um outro país, o qual, no entanto, por uma qualquer razão, insistira em não ser identificado nominalmente na intervenção que seria feita pelo nosso delegado.

A apresentação pelo nosso colega da posição nacional correu com toda normalidade. A certa altura, para expressar que não estávamos isolados, acrescentou: "Aliás, a Comissão sabe bem que esta posição não é apenas defendida por Portugal. Há uma outra delegação, cujo nome não posso nem quero aqui revelar, que já expressou reservas idênticas às nossas. Essa delegação, a delegação grega, tem precisamente os mesmos problemas que Portugal ..."

A sala caiu em gargalhadas, os gregos ficaram furiosos e a historieta passou aos anais.

Técnicas

Umas das técnicas publicitárias que mais me irrita é aquela que presume, em função daquilo que adquirimos, qual o tipo de produtos que, naturalmente, nos deve interessar. Nessa base, são-nos feitas propostas absurdas. Hoje, na "Amazon", na sequência de uma compra eletrónica que fiz, apareceu-me o inevitável "as pessoas que adquiriram isto também compraram isto", numa associação bizarríssima de interesses. Todos passamos por este tipo de táticas, nos dias que correm.

A este propósito, e ainda no terreno dos livros (que quase esgotam a minha atividade mercantil quotidiana), recordo sempre uma técnica, de idêntica natureza, de que era regularmente alvo numa cadeia de livrarias no Brasil (ia jurar que era a "Siciliano"). 

Eram lojas superpopuladas de funcionários, que nos seguiam desde a porta de entrada e acompanhavam as nossas deambulações pelas mesas. Ao final de uns minutos, quando pegava num livro, aproximava-se de mim um empregado com um outro livro na mão e perguntava: "Não lhe interessa este livro?". A primeira vez que isso me sucedeu fiquei siderado, sem saber por que diabo o homem me estava a chamar a atenção para uma outra obra: "Porque é que pergunta isso? Por que razão podia eu estar interessado em ler esse livro?". A resposta foi simples: "Porque, se está a consultar um livro dessa mesa, é porque se interessa por esses temas e este livro, acabado de sair, é desse mesmo tema...". 

Fiquei sempre com a sensação de que esses funcionários, normalmente muito jovens, não faziam a mais leve ideia do conteúdo do livro que estavam a propor, mas que apenas se dedicavam a pôr em prática uma técnica de "marketing" que lhes tinham imposto. E, devo dizer, só a inexcedível simpatia dos empregados das lojas no Brasil evitou, a partir daí, que eu manifestasse a minha permanente irritação com este método promocional.

No final de contas, a "Amazon" terá aprendido a técnica no Brasil. Não é de admirar: a Amazónia é por lá...

Biblioteca da reforma

Ontem à tarde, durante o lançamento de um livro francês de culinária portuguesa, que organizei na embaixada, revelei a uma amiga, que se passeia com fidelidade pelos comentários deste blogue, que começo a criar uma espécie de renovada reserva temática de interesses, para ocupar os meus futuros tempos de reforma. Cada vez mais dou por mim a descobrir novos e bizarros assuntos, fora dos meus nichos tradicionais de curiosidade. Exemplos?

Há semanas, acabei de ler o "Les couleurs de nos souvenirs", um curioso percurso pela memória nostálgica das cores, da sua associação aos nossos diferentes períodos ou casos da vida, a referências que vão da roupa à publicidade, com reflexos naturais nos nossos estados de alma.

Ontem mesmo, ao fazer horas para uma reunião, observando a "rentrée" editorial nas mesas da "Gallimard" do boulevard Raspail, dei de caras com uma "Ethnologie de la porte"*, que me pareceu ser uma original especulação em torno dessa peça do nosso quotidiano, que usamos constantemente quase sem a notarmos e que tão decisiva é para o dia-a-dia das nossas vidas. Que seria o mundo sem as portas, essas fronteiras da intimidade e da discriminação, às quais batemos e com as quais, por vezes, também batemos?

O que eu tenho para ler...

(Editada pela "Métailié", uma magnífica editora a quem a literatura portuguesa muito deve)

terça-feira, setembro 25, 2012

Nós por lá

Tive ontem em casa, para um pequeno-almoço de trabalho com um responsável português da área do comércio externo e do investimento, um grupo de figuras daquilo a que vulgarmente se chama "os mercados". A ideia, que julgo ser sempre útil, é procurar sublinhar aspetos caraterizadores da atual situação económica portuguesa, dando conta de números e tentando esclarecer algumas questões.

Saio sempre destes exercícios com insolúveis dúvidas sobre a sua real eficácia, mas em diplomacia, como em publicidade, todos cremos que "água mole..."

Muito para além destas conversas especializadas, em que nos esforçamos por levar aos ouvidos do exterior aquilo que julgamos ser o interesse que nos cumpre defender, acho muito curioso ouvir as questões que os estrangeiros nos colocam sobre a nossa situação interna, na economia como na política. Tenho para mim que Portugal, nos últimos anos, se tornou um país "transparente". Não apenas o essencial do estado das nossas contas, salvo alguns incidentes insulares, correspondia àquilo que delas reportávamos internacionalmente, como o nosso dia-a-dia é hoje escrutinado ao pormenor, com alguns estrangeiros a saberem da nossa vida pelo menos tanto como nós. Não sei se isto é bom ou não, mas é o que é. 

Portugal foi, durante muitos anos, um "não-assunto" para o cidadão comum dos vários países, que sobre nós apenas conhecia, como caricatura tosca, o fado e a Amália, o futebol e o Eusébio (depois o Figo, agora o Ronaldo), a mania do bacalhau e o vinho do Porto, e, ainda, cumulativamente ou não, Mário Soares, Fátima e o 25 de abril, com o Algarve à mistura.

Por más razões (estas coisas têm de ser assumidas), Portugal, e o estado da sua economia, passaram a ser hoje temas da conversa corrente (quase sempre com o simpático "mas vocês não são a Grécia!"), mais ainda quando se apanha um embaixador à mão de semear. Tal como me aconteceu, ainda há horas, no barbeiro, que, tesourando-me as brancas, me perguntava (talvez aculturado na conversa da "gente fina" do XVIème) sobre o estado dos "spreads" das nossas obrigações (ainda bem que eu tinha lido, de manhã, o "Financial Times") ou o ritmo de queda dos salários em Portugal (tema sobre o qual entendi dever ser parco em comentários).

Nestes últimos anos, tenho vindo a concluir que, talvez mais interessante do que saber o que os outros pensam de nós, acaba por ser curioso tentar perceber, por detrás das questões que nos colocam, o que esperam que comentemos sobre o nosso próprio país, numa espécie de jogo de espelhos em que não podemos, como a Alice, passar facilmente para o outro lado.

Os EUA, a ONU e Gaza

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