segunda-feira, janeiro 29, 2018

Dias de rei


As monarquias constitucionais europeias colocam um desafio importante aos soberanos de hoje. Tendo perdido, em todas elas, o essencial dos poderes que caraterizaram um outro tempo do exercício do seu papel no Estado, os reis, raínhas e afins funcionam, essencialmente, como fatores simbólicos de representação do país.

Com uma parte significativa da opinião pública - mais nuns países do que noutros - a colocar em causa o princípio dinástico na chefia do Estado, os monarcas atuais vivem sujeitos a uma atenta observação pública. Na minha perspetiva - embora cada caso seja um caso -, alguns monarcas estão sob uma implícita aferição pública da sua “utilidade”, a qual, porque decorrente da crescente dessacralização das suas funções, se torna dia a dia mais exigente.

Passado que foi, há muito, o tempo da sua intocabilidade pela comunicação social, os soberanos e as suas famílias têm de aguentar esse forte escrutínio, porque as sociedades democráticas não olham com bons olhos os privilégios e as mordomias, obrigando-os assim, cada vez mais, a seguirem uma vida que se assemelhe à do comum dos cidadãos. Os gastos com as famílias reais ou similares são hoje objeto de um debate muito estrito, sendo o respetivo comportamento social seguido com um interesse que vai da medíocre coscuvilhice tablóide à compreensível exigência ética.

Além disso, uma coisa é clara: todos os monarcas, no que toca à vida política, seguem por caminho muito estreito, porque a sua cada vez mais discutida legitimidade dinástica em nenhum instante se pode contrapor às instituições com representatividade democrática. Daí que a palavra dos reis e afins seja de “ouro”. Os reis não podem dizer uma palavra a mais e, em especial, essa palavra estará logo a mais se for vista como inadequada.

Aos reis que não necessitam, minimamente, de se mostrar na arena política o que é pedido é que sorriam e representem com dignidade o Estado. Aos outros, àqueles que a conjuntura obriga a intervir na coisa política, exige-se um imenso bom senso. E o bom senso não nasce necessariamente com as pessoas - e os reis são pessoas.

O rei Juan Carlos, num momento delicado da vida espanhola, revelou um bom senso que, lamentavelmente, foi perdendo numa fase mais adiantada da vida. A popularidade da monarquia espanhola perdeu com isso, somada ao comportamento negativo de outros membros da família real.

A Juan Carlos, que abdicou, seguiu-se Filipe, um novo rei que parecia bem preparado e capaz de assegurar a continuidade. Falhou, contudo, logo no primeiro teste sério a que foi sujeito. O que tem dito sobre a Catalunha, bem como o “timing” dessas intervenções, revela falta de respeito por muitos espanhóis, deixando-se acantonar num dos lados da barricada, não percebendo que não é esse o seu papel. Mais recentemente, ao ter suscitado o caso catalão numa intervenção no Forum de Davos, Felipe VI revelou uma imensa ausência de bom senso e de sentido de Estado.

Se as coisas vierem a correr mal na Catalunha, Filipe VI pode ter contribuído para isso. Se correrem bem, dificilmente terá alguma coisa a ver com isso.

domingo, janeiro 28, 2018

Há dez anos...



Caramba! Eu queria mesmo fazer uma festa pelos meus 60 anos! “Sexagenário” é uma palavra que começa bem e acaba mal, mas que nos oferece um título garantido do “Correio da Manhã” em caso de distração urbana: “Sexagenário atropelado...”. 60 anos era uma idade bonita, madura, quase clássica! Impunha-se uma festa “à maneira”, no Brasil, onde eu estava como embaixador.

Mas aquele dia 28 de janeiro de 2008 ia fugir ao meu controlo. É que o príncipe dom João (só seria dom João VI em 1813), dois séculos antes, havia decidido decretar a Abertura dos Portos da colónia, na sua inesperada paragem em Salvador da Bahia, precisamente no dia 28 de janeiro de 1808.

E não é que o brasileiros comemoravam essa data com oficial entusiasmo, tendo o embaixador de Portugal sido convidado a intervir na imensa cerimónia que teria lugar na Associação Comercial da Bahia, em cuja sede, numa parede, figura este imenso quadro de Portinari, retratando a corte recém-chegada de Lisboa? O dever estava antes do prazer!

Assim, “por mor de” dom João, a festa - porque alguma festa houve! - dos meus 60 anos acabou por ser em “petit comité”. Acabámos a jantar serenamente (lembro-me que bem!), com uma amiga e um amigo, no claustro do belo Hotel Convento do Carmo, em Salvador da Bahia. E acompanhados de uma viúva: a “Veuve Clicquot”...

sábado, janeiro 27, 2018

Para trás


Quando se sai, de carro, da embaixada portuguesa em Paris, na rue de Noisiel, é-se obrigado a circundar todo o quarteirão. Quero com isto dizer que somos conduzidos a passar muito próximo do lugar de onde partimos, com a porta da embaixada de novo à vista. Naquele dia 25 de janeiro de 2013, recordo-me bem de que não fui tentado a olhar, por uma última vez, para a porta de onde acabara de sair.

E, no entanto, aquele era o último dia de uma “aventura” que se iniciara mais de 37 anos antes, quando, em 13 de agosto de 1975, ingressara na carreira diplomática portuguesa. Esse percurso profissional terminava ali, aos 65 anos, idade que iria cumprir três dias depois e que, à época, era o limite para a atividade no serviço externo. Estava tudo perfeito: tinha chegado o termo de um trabalho diplomático que me satisfizera plenamente e, em Portugal, esperavam-me outras coisas agradáveis para fazer (não pensava eu que iriam ser tantas, confesso...). 

Mas - lembro-me bem! - não olhei a porta da embaixada, onde, um minuto antes, me despedira de alguns colaboradores que deixei como amigos, porque nunca olhei para trás em qualquer das fases da vida profissional que cumpri. As “coisas” têm o seu tempo e, no final, esses capítulos fecham-se com naturalidade, sem nostalgias, partindo-se para outra. Sem nunca esquecer o passado, a única vida que existe é o dia seguinte.

Entretanto, passaram cinco anos. Nunca pensei que estes anos acabassem por ser tão bons como foram. Um regresso calmo a Portugal, com trabalho, com tarefas agradáveis de diversa natureza, um reencontro mais regular com a família e com os amigos antigos, a criação de muitos novos e bons amigos, mas também viagens, escrita, comidas, conversas, livros, com saúde qb. Ah! E também algumas polémicas, alguns dissídios e, claro, algumas tristezas. A vida, sem sal, seria sensaborona. Repito: em geral, tudo (mais que) perfeito!

Se fosse religioso, dava graças a deus. Não o sendo, dou graças à vida, que tem sido muito generosa comigo e à qual, como toda a modéstia, só vou pedindo uma coisa muito simples, embora essencial: tempo.

sexta-feira, janeiro 26, 2018

Oito ou oitenta


2005. Eu tinha acabado de chegar ao Brasil. Ele era um quadro superior de uma grande empresa brasileira. Tínhamo-nos conhecido horas antes e, como embaixador português, confesso que estranhei a sua excessiva franqueza. Disse-me abertamente ter vergonha de que Lula da Silva fosse presidente do seu país: um quase analfabeto, que falava um português cheio de erros, sem nível para representar uma nação com a ambição do Brasil. Para ele, o contraste com Fernando Henrique Cardoso, que tanto prestigiara a imagem do país, não podia ser mais chocante. 

Fiquei em silêncio. Como diplomata, fui educado a nunca me pronunciar de forma negativa, perante estrangeiros, sobre figuras de Estado do meu país, por pior que eu delas pensasse (e muitas vezes pensei). E, naturalmente, não me associaria a comentários desagradáveis sobre a personalidade junto de quem estava acreditado. Ele não tinha esse constrangimento profissional, mas o bom senso obrigava a algum recato, face a estranhos, em matéria de apreciações sobre a figura que os brasileiros, com toda a liberdade, haviam escolhido, dois anos antes, para a chefia do Estado.

2007. O Brasil de Lula estava na moda, não da internacional “esquerdista”, mas do mundo ocidental liberal, da iniciativa privada. O presidente brasileiro era então uma grande figura internacional, impulsionado por uma diplomacia eficaz, com visão e ambição. Não havia líder europeu que não desejasse uma visita de Lula, que se revelava um construtor de pontes de entendimento na América do Sul, perante o radicalismo de Chavez ou de Morales. O Banco Mundial e a União Europeia elogiavam os programas sociais impulsionados pelo presidente brasileiro, o biodiesel era uma bela promessa ambiental, o pré-sal petrolífero a garantia de um futuro risonho. E, acima de tudo, a economia brasileira parecia imparável.

Num encontro empresarial em S. Paulo, cruzei-me com aquele meu interlocutor. A conversa já era outra. Lula passara a vedeta do G20, a ambição de chegar ao Conselho de Segurança da ONU não parecia desproporcionada. E aquele meu conhecido exultava, claro, com isso. O tom de apreço pelo presidente era em tudo o oposto do anterior. A certo passo, perguntou-me: “Você conhece pessoalmente Lula? Ele é um génio, não acha?” Ri-me intimamente: afinal, o presidente conquistara o afeto do homem. E era óbvio que estava a ser sincero.

2016. Na noite em que Dilma Rousseff foi julgada pela Câmara de Deputados do Brasil, eu estava por acaso em Paris. Ele entrou no Flore e, ao ver-me, fez uma “festa”. “Já viu que aquela petralha da Dilma vai sumir de vez?”, lançou-me, eufórico. Nem lhe perguntei pelo seu “querido Lula”. O vento tinha mudado, de novo.

Lembrei-me dele agora. Deve estar feliz. O Brasil é assim: ou oito ou oitenta.

quarta-feira, janeiro 24, 2018

Lula


É uma tristeza que a justiça brasileira se tenha prestado a uma evidente instrumentalização política, ao serviço objetivo de um certo Brasil, acelerando artificialmente os seus procedimentos, com a finalidade de evitar que Lula viesse a ser candidato e, muito provavelmente, o futuro presidente eleito do Brasil. 

É uma tristeza que um homem como Luiz Inácio Lula da Silva, que devolveu a esperança a milhões de brasileiros, muitos dos quais tirou da fome e da miséria, se tivesse deixado enredar em práticas e comportamentos que o deixaram à margem da exigência ética que a sua história pessoal e política requereria.

É tudo uma imensa tristeza.

Maria Germana Tânger


A poesia - isto é tão discutível como tudo, reconheço - não é algo que seja naturalmente fácil para o gosto comum. Não falo de rimas populares, do versejo vulgar, refiro-me a textos mais sofisticados e complexos, alguns de leitura não unívoca, que é precisamente onde pode residir a sua maior graça. 

Tenho amigos que, embora cultos, são completamente incapazes de ler poesia, não têm paciência para o que consideram ser um modo rebuscado e artificial de escrita. Quando muito, sabem de cor uns versos que os obrigaram a decorar nas seletas - como a “Balada da Neve” - e, de certo modo, fazem disso a caricatura de toda a poesia, o que no fundo lhes disfarça a falta do gosto que não educaram.

Em minha casa, na infância, a poesia fazia frequentemente parte dos nossos serões. O meu pai lia alto - e achava que sabia ler, o que é também um “estilo” para certos amantes da poesia - alguns dos seus poetas preferidos, que, curiosamente, o destino acabou por fazer com que fossem, em regra, muito diferentes dos meus. Mas “dizia” poesia com regularidade, sabendo muitos poemas de cor, habituando-me a ouvir e, por essa via, a também ler poesia. Houve um tempo - a minha fase ”política” de leitor de poesia - em que próprio tinha decorado vários poemas de Manuel Alegre e de alguns poetas do neo-realismo. Nunca agradecerei o suficiente ao meu pai por esse gosto que me transmitiu.

Ainda hoje me faz imensamente bem sentar-me com um livro de poesia na mão. Não é muito frequente isso acontecer, mas, às vezes, passo um bom par de horas saltitando, de livro em livro, “agarrando’ poemas de vários autores. Tenho imensa poesia pelas minhas estantes e tenho vindo a descobrir, um pouco por acaso, alguns poetas contemporâneos, parte deles pouco conhecidos, de muito boa qualidade. Não sou um leitor silencioso, confesso, quase sempre só consigo ler poesia dizendo-a alto, mesmo que só para mim, o que me afasta de alguma poesia de mais difícil sonoridade.

Serve isto para dizer que devo a Maria Germana Tânger, que agora desapareceu, alguma coisa do meu gosto pela poesia, pelo que também lho agradeço, nesta que foi a hora da sua morte. Foi ouvindo-a a ela, nesse outro tempo da nossa televisão, mas também a Manuel Lereno, a João Villaret e, mais tarde, a Mário Viegas e a outros “diseurs” (não apenas portugueses) que ganhei para sempre o gosto por essa forma diferente, mas magnífica, de literatura.

terça-feira, janeiro 23, 2018

Churchill


Ontem, fui ao cinema ver um filme sobre um período da vida de Winston Churchill. Um belo filme, que vivamente recomendo.

Desde a minha adolescência que tenho uma curiosidade quase sem limites pela política interna britânica. Desenvolvi um fascínio pela fantástica história daquele país, uma nação de gente destemida, orgulhosa, com uma maneira muito própria de estar no mundo, que muito nos ajudou e entender a democracia. 

Vivi em Londres anos suficientes para ter podido apreciar aquela gente e o seu particular modo de vida. Posso ter “mixed feelings” sobre os britânicos, posso considerar insensato o Brexit, posso ter mesmo algum desdém face à sua congénita sobranceria, mas reconheço no Reino Unido um protagonista, quase ímpar, da História universal.

Serve isto para dizer que, nesse contexto, nunca fui tocado pelo fascínio que se criou, e tem vindo a ser alimentado, em torno da figura de Winston Churchill. Reconheço o papel polarizador que teve na resistência à agressão nazi, mas, mesmo assim, não consigo encontrar razões para comungar da devoção que, nos dias de hoje, lhe é dedicada por imensa gente. 

Winston Churchill, de que conheço e li o suficiente para saber dele o que julgo necessitar saber, e que faz parte das figuras históricas a quem reconheço uma elevada estatura, é um doutrinário político que me merece muito pouca simpatia. Pelo contrário, é mesmo uma personalidade cuja postura político-ideológica me desagrada e me causa forte rejeição.

Porque penso isto, muito embora saiba que é politicamente correto face aos ventos dominantes pensar o contrário, aqui deixo expressa esta minha posição.

segunda-feira, janeiro 22, 2018

Queixas

Há dois dias, num funeral, naqueles momentos em que sentimos compulsão para dizer uma graça para desanuviar o ambiente, embora ela não possa ser muito forte para não contrastar com o momento de pesar que vivemos, uma amiga que, tal como muito de nós, se sente fortemente desencantada em face das perdas que temos vindo a ter entre os nossos conhecidos, dizia, sorrindo ao de leve: “Devia haver alguém a quem nos pudéssemos queixar desta ceifa...” Uma voz, ao lado, retorquiu: “Sorte têm os que acreditam em algo “lá em cima”, pois têm uma espécie de instância de recurso”. A conversa entre ateus - porque todos eram ateus - prosseguiu com um terceiro interlocutor: “Eh, pá! Mas esses que acreditam nunca se queixam, porque acham sempre que há razões insondáveis...”. Todos concluímos que não há uma ASAE para a morte.

Nouvelle cuisine


Morreu Paul Bocuse, o mais estrelado dos cozinheiros, a figura mais proeminente da “nouvelle cuisine”.

Há semanas, num restaurante, ouvi uma senhora dizer para o empregado: “Traga-me uma dose muito pequena de risotto. Muito pouco...”

O marido, atento, deixou afastar o empregado e comentou: “Foi por haver muitas pessoas como tu que chegámos à “nouvelle cuisine”, àquelas doses microscópicas em pratos imensos...”

É injusto para cozinheiros geniais como Bocuse, mas não deixa de ter graça!

domingo, janeiro 21, 2018

Qual é a pressa?


Há um escândalo - um imenso escândalo! - que ocorre todos os dias nas nossas estradas e auto-estradas, um pouco por todo o país, mas com uma incidência muito particular na zona de Lisboa. E desse escândalo ninguém fala, porque é um tema em que PS, PSD e CDS mantêm um entendimento perfeito, sobre o qual paira um “omertà” de que, estranhamente, a comunicação social é cobardemente cúmplice.

Esse escândalo, esse atentado à segurança de pessoas e bens, é praticado impunemente pelos motoristas dos presidentes da República, dos presidentes da Assembleia da República, dos primeiros-ministros e de quase todos os membros de todos os governos que, por uma qualquer “bula” legal, cuja racionalidade ninguém entende mas também ninguém questiona, se permitem andar pelo país a velocidades astronómicas, às vezes colando o ponteiro aos 200 km/h, pondo em risco a vida de cidadãos inocentes que não têm a menor culpa de que as equipas de “Suas Excelências” não saibam construir as respetivas agendas com tempo e horas. E atrás desses dignitários, lá vão, à mesma velocidade, os carros com chefes de gabinetes, assessores, adjuntos e “tutti quanti” figuras da corte do poder de turno.

No passado, certos membros do governo usavam mesmo, com regularidade, sirenes nos seus carros e há quem se recorde que alguns vinham de Cascais para Lisboa, todas as manhãs, a ultrapassar loucamente em risco contínuo, com um lampião amarelo colocado no tejadilho, qual ambulâncias a caminho das urgências. Hoje, parece que só se usam umas luzes azuis intermitentes, que sentimos no retrovisor quando esses loucos carros oficiais se nos aproximam nas estradas.

Não estou a falar de caravanas oficiais, em determinados momentos de Estado, ou de missões oficiais estrangeiras. Refiro-me a deslocações de rotina, no dia-a-dia, na ida e volta a uma iniciativa a Mortágua ou a Almodôvar ou a A-da-Gorda. Que necessidade há de conduzirem a alta velocidade?

Este é um escândalo de sempre, que tem décadas! Quando há batedores, o risco é menor. Quando não há, os cidadãos inocentes correm perigo (que é de morte!) com essas correrias insensatas e insanas. Há quem argumente que é por uma questão de segurança! Qual quê? Que risco de segurança sofre o Secretário de Estado a Que Isto Chegou? E a nossa segurança não conta? 

Dir-se-á que esses condutores são hábeis e capazes. Ai é? Também eu entendo que posso conduzir com segurança a 160 km/h em imensas retas e, se o fizer, arrisco-me a apanhar pontos na minha carta. Ao cidadão comum, que paga os seus impostos e tem plenitude de direitos, é permitido ser submetido a testes que lhe permitam “acelerar”? Estou convencido que, fora desses motoristas, deve haver muita gente que sabe conduzir igual ou melhor do que eles.

Um dia disse alguém: “Qual é a pressa?” Por que será que ninguém quer falar disto? 

(Já estou a presumir um comentário: “Nos cinco anos e tal que ele esteve no governo também devia andar por aí “a abrir” “. Pois enganam-se! Todos os motoristas que comigo trabalharam tinham estritas instruções para não excederem a velocidade legal.)

sábado, janeiro 20, 2018

Angola e os seus consulados

Será ignorância da nossa imprensa ou será algo mais? 

Ficou-se a saber que, num documento interno de reflexão, o assessor diplomático do presidente angolano suscitou a ideia de encerrar alguns consulados daquele país em Portugal. 

Quererá isto dizer que vai acabar o apoio consular aos largos milhares de angolanos no nosso país? Ou será que o novo poder angolano pode estar a tentar acabar, por essa via, com a dualidade, até agora existente, entre a embaixada angolana em Lisboa e as estruturas de representação consular do país em Portugal? 

Porquê? Porque alguns consideram, e entre esses “alguns” poderá estar o novo poder em Luanda, que é importante colocar sob o claro comando do embaixador angolano em Portugal as atuais estruturas consulares. Como? Por exemplo, criando secções consulares na embaixada angolana em Portugal, ou terceirizando serviços, como muitos países fazem um pouco por todo o mundo.

Será assim tão difícil de entender isto ou dá grande jeito, a um jornalismo especulativo e sensacionalista, criar a ideia de que esta decisão de rearranjo funcional é um ato hostil a Portugal? Alguém procurou o contraditório sobre esta “notícia” ou isso é já um preciosismo de “velho jornalismo”?

Jorge Sampaio


Jorge Sampaio está em excelente forma. A entrevista que hoje concede ao “Expresso” é de uma extrema lucidez, com um imenso equilíbrio e que muito conforta quem, como eu, se sente feliz pelo facto de ter apoiado, desde a primeira hora, a sua candidatura à presidência da República. 

Sampaio é uma grande figura do nosso regime democrático, que desempenhou o cargo em Belém com um inultrapassável sentido de Estado e de dever cívico. 

Cometeu erros? Claro que sim. Mas nunca o fez para acomodar a imensidão de um ego ou para tentar pré-definir o seu lugar na História. 

Sampaio foi e é um grande homem de bem e um das figuras que honra a nossa democracia. Repito: leiam a entrevista!

Para além da língua

Sei que não é muito popular, nos claustros das Necessidades, questionar os equilíbrios, por mais instáveis que sejam, em que se apoiam os principais eixos da política externa portuguesa. Para quem tem a responsabilidade de gerir esse terreno das nossas políticas públicas parece, por vezes, preferível deixar passar o tempo sobre certos problemas recorrentes, numa dupla lógica: a de que há questões que nunca terão uma completa resolução e com as quais temos de habituar-nos a viver, como se de “conflitos de baixa intensidade” se tratasse.

É hoje, contudo, uma evidência que o tradicional triângulo em que assenta a nossa ação externa vive numa forte ebulição. 

No plano transatlântico, o fator Trump introduziu um grau de imprevisibilidade na estabilidade do relacionamento entre os EUA e os parceiros europeus que não tem paralelo desde o fim da Segunda Guerra mundial, para além de agitar outros cenários geopolíticos em termos preocupantes.

O próprio quadro europeu, tendo como pano de fundo externo essa “novidade” americana, surge marcado pela incógnita do Brexit, que leva o processo integrador por águas políticas nunca antes navegadas. Como se isso fosse pouco, surgem agora, com um vigor nunca antes assumido, dessintonias no plano da adesão a princípios democráticos tidos por comuns, os quais, desde logo, enfraquecem o “soft power” de valores que eram o cartão de visita da “velha” Europa comunitária.

Finalmente, a vertente dos países que se expressam em Português vive um período que convoca escasso otimismo e que, para alguns mais céticos, pode pôr mesmo em causa a validade do modelo institucional a que chamamos CPLP. 

Como não podia deixar de ser, as duas primeiras vertentes - transatlântica e europeia - são as que mobilizam, de forma mais ou menos sofisticada, os nossos estrategas, muito embora sejam precisamente aquelas em que a nossa capacidade de influenciar o rumo das coisas é menor. O mundo lusófono, com os seus problemas é, claramente, um tema menos “sexy”, mais paroquial, que não excita os nossos especialistas. E, no entanto, ele é talvez aquele em que, embora com todas as dificuldades, Portugal tem ainda um peso específico com algum significado.

Ora é neste “nosso mundo” que parece verificar-se uma manifesta ausência de estratégia com sentido prospetivo. Vinte anos passados sobre a instituição da CPLP, não se descortina nenhuma ideia, nova e criativa, sobre o formato do modelo criado. Nenhum esforço sério de reflexão sobre a instituição é promovido, nenhum exercício em torno das “lessons learned” é desencadeado. Somos lestos a perorar sobre o Brexit, Trump ou o conflito sunita-shiita, mas nenhum debate substancial sobre o modelo de relacionamento intra-lusófonos é promovido pelos nossos “think tanks”. Pelo contrário, sempre que surge algum discurso em torno do tema, ele reveste-se de tons auto-congratulatórios e quase festivos. 

E, no entanto, os problemas acumulam-se, sobrecarregando as agendas bilaterais, obrigando a uma desmultiplicação de esforços, centrados no casuísmo dos dramas pontuais – sejam eles as crises ciclotímicas na Guiné-Bissau, os traumas recorrentes na relação com Angola, as “desconsiderações” sentidas por Timor-Leste, os diplomas universitários ou os dramas migratórios com o Brasil. 

Sabemos que a heterogeneidade dos componentes do “clube” é imensa, conhecemos as sensibilidades à flor da pele que sempre marcam as relações pós-coloniais, mas são escassos os esforços para multilateralizar as nossas agendas comuns, com propostas ousadas e desafiadoras. Quase parece que tememos que um esforço para revisitar a narrativa em torno do trabalho coletivo possa abrir uma “caixa de Pandora” que, num instante, possa pôr em causa o edifício existente, por muito frágil que ele seja. Será isso? Se for assim, nunca iremos a lado nenhum. 

Por isso me pergunto se Portugal não poderia, com algum Estado “like-minded”, propor uma grande conferência em torno da CPLP, testando a montante algumas ideias criativas que, pelo menos, nos permitam sair do rame-rame pouco prestigiante em que nos deixámos cair.


(Dedico este texto à memória do embaixador António Russo Dias, que ontem desapareceu, e que nunca desistiu de pensar o mundo pós-colonial português.)

sexta-feira, janeiro 19, 2018

Verdade e confiança



Há uma batalha no mundo das notícias que parece não ter sido ainda percebida pela maioria dos meios de comunicação social. Essa batalha vai acabar por ter vencedores e vencidos. É a batalha pela verdade.

Poluída pelos vícios das redes sociais, empurrada para o terreno digital onde ainda não consegue gerir com eficácia a opção pelas assinaturas e os modelos de publicidade, muita da comunicação social deixou-se colonizar, da pior forma, pelo sensacionalismo, na busca dos títulos “espertos”, que convocam o “clickbait” para mostrar as visitas aos anunciantes. 

É impressionante como órgãos sérios e responsáveis parecem, no dia-a-dia, convertidos em adeptos de truques para iludir o leitor. Ao fazê-lo, ao “venderem gato por lebre”, esses meios de comunicação social não se dão conta de que estão a cavar a sua própria sepultura. É que, podendo ganhar algumas vantagens no domínio publicitário imediato, através de um público seduzido pelo sensacionalismo, perdem progressivamente crédito e bom nome. E isso, como é dos livros, dificilmente se volta a recuperar.

Como frequentador de muitos “sites” e espaços digitais, dou comigo a fazer, cada vez mais, uma separação do joio que está no meio do trigo. Porque alguns desses espaços me dão, por sistema, notícias ilusórias, me tentam iludir através de títulos “hábeis” e “leads” enganadores, vou tendendo, quase inconscientemente, a deixá-los de parte. Tenho a sensação de que, a cada dia que passa, crio uma espécie de “lista positiva” daqueles produtores de informação de onde saio com a sensação (porventura ilusória, dirão alguns) de que o produto que me é servido tem uma relação mais forte com a verdade. Estou perfeitamente convicto de que este será o caminho do futuro.

Com efeito, mergulhado num manancial de notícias, o leitor tende a apreciar cada vez mais a informação abalizada, com a apresentação equitativa da posição das partes, mesmo se acompanhada por uma opinião bem identificada, por uma assinatura prestigiada, em que o leitor sabe que pode acreditar, com vista a formar a sua própria opinião. O leitor do futuro - curiosamente, tal como o do passado confiava em que “se já saiu na imprensa é porque é verdade” – vai tender a aceitar que uma coisa é verdadeira se acaso a leu num orgão de comunicação em que, por amostragem cumulativa, se habituou a confiar. E, com toda a probabilidade, na lógica que fazia o sucesso dos “anchors” das tv anglo-saxónicas, vai olhar a cara da pessoa que lhe lê ou escreve as notícias e nela vai encontrar a empatia que credibiliza aquilo que ouve ou lê e em que acredita.

Os orgãos de informação devem entender que o seu sucesso, a prazo, passa por serem reconhecidos como “pessoas de bem”. A confiança vai ser a chave da informação no futuro.

Que bela vida, António!


Caramba, que bela vida, António, aquela que tu tiveste! Ainda há semanas, falávamos de Moçambique, em que tu recordavas uma infância feliz. Essa África que voltaste a reencontrar na Guiné, a esquina da vida onde esbarraste com a tua felicidade, sob o nome de Paula, para sempre. Antes, tinha sido a Lisboa das avenidas que só foram novas quando nós também o éramos, o teu Vává, o Cénico de Direito, a barra do Gambrinus, a Tilt (ainda alguém se lembrará?). E, claro, o “eme-erre” que nunca deixavas cair, face às minhas teimosas ironias. Só te conheci no MNE e, a partir daí, no teu trajeto pelo mundo - um mundo a que um dia ambos demos uma volta completa, para inveja de muitos (essa ninguém nos tira!). Tu, António, eras um viciado em amigos - muitos, diversos, bons e alguns assim-assim - para quem tinhas uma tolerância que, às vezes, me parecia que não rimava com a tua extrema exigência contigo mesmo. Logo tu, que rimavas tão bem. Qualquer dia, prometo que faço uma antologia do “Malta da Rima”, esse efémero e secreto blogue a três em que tu e um amigo que agora está ministro me davam abadas de qualidade poética, que me levaram a sair de cena, cabisbaixo de modéstia. Ainda antes, lembras-te?, falhámos o projeto de criar um site sobre trívia, uma arte nobre a que, por uns anos, nos dedicámos e em que trocámos boas descobertas, pelas livrarias que lá fora cruzávamos. No dia de hoje, acho que já podemos revelar que éramos só nós os dois o irreverente “Luís da Cunha”, o “coletivo de diplomatas” que, no fechar dos anos 80, assinou no “Expresso” dois artigos que criaram fúrias no terceiro andar das Necessidades (o do poder de turno, para quem não saiba). Resta muito, resta quase tudo, restam os livros e os filmes, resta o que foi o Procópio, a “dois”, o imenso Nuno, a festa noturna, o “Espírito de Xabregas”, o poder da tertúlia, as conversas em cacho, pela madrugada dentro e, claro e sempre, a política, onde muitas vezes divergimos no que me parecia acessório. E quantos jantares nossos pelo mundo (Brazzaville, Cantão, Honolulu, Viena, Bangkok, Estrasburgo, Sidney, Maurícias, Paris, Fidji, Serajevo, Los Angeles, sei lá bem onde mais!) e um longo almoço nosso em Lisboa, que guardo para sempre, com o Zé Correia Pinto, ouvindo o Carlos Antunes a pintar as suas romagens clandestinas com o Cunhal pelos idos de Leste. Para o mundo e para a história irónica do nosso grupo, ficará nos anais do YouTube a tua imagem televisiva, o teu colete bege (o Nuno teimou sempre que “lhe cheirava” a Armani, eu achava que era apenas Coronel Tapioca), no tornear elegante do carro em que, lá por Bissau, levaste um dia o Nino Vieira para porto seguro. Agora, só para mim, caro António, ficará para sempre aquela chamada que me fizeste, dois minutos após as badaladas da entrada em 2018. Um telefonema que me alegrou tanto quanto me entristeceu profundamente, porque a tua voz revelava que este ia ser o ano em que a tua bela e extraordinária vida iria ter a longa e eterna pausa.

quinta-feira, janeiro 18, 2018

O Portugal de Leste


Há dois dias, estive em Castelo Branco, num debate promovido pela Caixa Geral de Depósitos, em articulação com a Rádio Renascença, em que foram debatidos os temas da interioridade, trazidos à realidade próxima pela tragédia dos incêndios.

Lembrei-me então de um artigo que escrevi, vai para dois anos, no saudoso “Diário Económico”. Chamava-se “O Portugal de Leste”. Reli-o e acho que representa muito do que continuo a pensar. Aqui o deixo, de novo:

Há dias, numa conversa com alguém com responsabilidades políticas, fui surpreendido pelo raciocínio de que "o interior é hoje um mito", de que "com as acessibilidades agora existentes, em menos de duas horas qualquer pessoa se desloca das zonas de fronteira até ao litoral e vice-versa", pelo que é "um imenso erro estar a despejar dinheiro em áreas onde ninguém quer viver".

A regionalização é um tema divisivo na sociedade portuguesa e eu próprio nunca me senti muito seguro sobre a bondade da criação de um modelo organizativo que implica novas e dispendiosas estruturas, cuja relação custo-eficácia está ainda por estabelecer. Mas tenho de reconhecer que o preço da "não regionalização" é hoje também muito elevado, no que isso significa em termos de expressão da vontade e interesses de certas regiões do país.

Foi A.H. de Oliveira Marques quem fez notar que, já desde antes da criação da nacionalidade, se estabeleceram no território do que é hoje Portugal redes viárias que vieram a favorecer a divisão vertical do país. Com os séculos, foi-se criando cada vez mais no país um "muro", em termos de desenvolvimento, que hoje separa o "Portugal de Leste" do litoral desenvolvido. Um tanto surpreendentemente, a democracia e a integração europeia não contribuíram para contrariar esta realidade, que também não foi alterada, como se esperava, pela cooperação transfronteiriça.

Quando passei pelo governo assisti, com algum espanto, à explanação de propostas estratégicas que tinham no seu centro modelos de desenvolvimento exclusivamente assentes no litoral, na criação de uma espécie de "metrópole" ao longo da costa, concentradora das atenções, dos recursos e, naturalmente, de pessoas. O interior, se não era "só paisagem", não ficava muito longe disso.

O modelo das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional hoje existentes é uma aberração que favorece o prolongamento desta discriminação, que traz consequências trágicas em termos de ordenamento do território.

Que tem a zona industrial do Porto a ver com a desertificação do nordeste transmontano, qual é a similitude de abordagem das questões que afetam Aveiro e Coimbra com as zonas fronteiriças das Beiras? Não estará a região transmontana muito mais próxima, em matéria de interesses, da Beira interior (ou mesmo, no limite, do Alentejo oriental)? Precisamente porque hoje existe uma multiplicidade de evidentes interesses comuns, não seria de estabelecer uma Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Interior Norte e Centro, amputando para tal as duas CCDR dessas áreas?

Mais difícil do que lutar contra interesses instalados é combater mentalidades enquistadas em modelos mentais que alguns se obstinam em não abandonar. É preciso lutar para derrubar o “muro” que separa internamente o nosso território, é necessário lutar pelo "Portugal de Leste" e, de uma vez por todas, caminhar para a unificação do país.“

Sexo e diplomacia


Acabo de ler uma notícia num “site“ francês referindo-se à representante diplomática americana nas Nações Unidas como “l’ambassadrice de Trump”. 

Isso trouxe-me à memória um episódio e dá-me oportunidade de clarificar alguns conceitos básicos.

Um dia, em Paris, no final de um almoço em que estive presente, no período de perguntas e respostas, um secretário de Estado francês dirigiu-se a uma embaixadora de um país da União Europeia tratando-a por “madame l’ambassadrice”. A minha colega foi “aos arames”, interrompeu o governante e disse-lhe que considerava menos correto ser chamada de “ambassadrice”, termo que designa a mulher de um embaixador. “Madame l’ambassadeur” era como exigia ser tratada. O ministro replicou que aquela era a sua língua e que, ao utilizar essa palavra, sabia que estava a utilizar a expressão correta. A embaixadora sentiu-se ofendida e deixou a sala.

O ministro tinha razão... mas a embaixadora também. Na língua francesa, é vulgar designar as figuras femininas que desempenham cargos de chefe de missão diplomática por “ambassadrice”, expressão exatamente idêntica à que se utiliza para as mulheres dos embaixadores. Mas também há muito quem considere que devem utilizar-se palavras diferentes para as duas funções, o que implica não feminizar a palavra “ambassadeur”.

Na língua portuguesa, as coisas são bem mais simples. A mulher do embaixador é designada por “embaixatriz” e a diplomata que exercer a chefia de uma embaixada é designada por “embaixadora”. Não há, contudo, nenhum termo que possa identificar o marido de uma embaixadora ou de um embaixador. E refiro isto porque, desde há semanas, há um embaixador português casado com uma pessoa do mesmo sexo, facto já bastante comum em várias carreiras estrangeiras mas que julgo ser a primeira vez que acontece na diplomacia portuguesa.

quarta-feira, janeiro 17, 2018

O mar das Necessidades


Gosto dos livros de cerca de 128 páginas. Nem são "pesados" demais, neste tempo em que ninguém tem tempo, nem curtos de menos, como uma espécie de sumários desenvolvidos que por aí pululam. Fazem-me lembrar a coleção "Que sais-je?", que acompanhou a minha formação e que, ainda hoje, constitui um elemento permanente de consulta. Pode mesmo ser que, em breve, eu escreva um livro desse tamanho...

Duarte Bué Alves, um diplomata nascido nesse ano glorioso de 1974, teve a ousadia inspirada de escrever sobre um dos mais importantes capítulos do nosso futuro como país: o mar e o modo como o devemos tratar, no quadro da promoção externa dos nossos interesses. Chamou-lhe, quase poeticamente, "Diplomacia Azul", embora esclareça, logo a abrir, que estava a falar de política externa e não do seu modesto braço executor.

O livro é refrescante, como o próprio mar. Não é uma obra académica, muito embora não fuja a esse paradigma referencial, como o assinala o presidente da República na nótula com que honrou o trabalho. Para além de um enquadramento histórico rigoroso e útil, nomeadamente no que respeita à ligação de Portugal ao mar, em especial aos quadros reguladores multilaterais que hoje norteiam o tema, o autor avança pela importantíssima "economia azul", que, com toda a certeza, acabará por ser a alavanca do interesse futuro neste domínio. Aborda também, embora de forma menos consensual, a questão da NATO e do (por ora "falecido") TTIP nesse contexto, tomando posição, como convém ao debate de ideias.

Com total franqueza, gostei muito de ler este livro e gostei, especialmente, de ver um jovem colega (ele devia dar os primeiros passos quando eu já andava pelos claustros da casa) ter a iniciativa de se embrenhar, com a necessária profundidade, numa das áreas a que as Necessidades devem, cada vez mais, prestar a maior atenção. Quanto mais não seja porque muitos estão já a prestar grande (e preocupante) atenção ao mar português.

Que pena tenho que Duarte Bué Alves, que felicito vivamente por este seu trabalho, já não tenha podido contar, com a ajuda, para a construção do seu livro, dessa figura magnífica que foi Mário Ruivo, a maior personalidade que Portugal teve, até hoje, neste domínio, amplamente reconhecida pelo mundo multilateral e que nos deixou faz agora um ano.

Old days

A internet fez desaparecer a ansiedade boa com que, em tempos passados, recolhíamos jornais, nos escaparates dos aeroportos.  Hoje, tudo par...