domingo, abril 06, 2025

Jerónimo Martins


Daqui a dias, vou deixar o cargo de membro não-executivo do conselho de administração da empresa Jerónimo Martins, lugar que ocupava desde abril de 2013, como foi já publicamente anunciado. Era, atualmente, um dos administradores mais antigos da empresa, tendo cumprido quatro mandatos de três anos, o que, aliás, é bastante raro. 

Comigo saem outros cinco colegas, um português e quatro estrangeiros, num processo de rotação que se faz com toda a normalidade, similar a outros que testemunhei no passado. No meu caso, a saída estava definida e datada há três anos. Passarão agora a integrar o conselho, além de figuras estrangeiras, três personalidades portuguesas extremamente qualificadas, que aliás conheço bem e que, estou certo, levarão novas e ricas visões do seu passado profissional para os debates no seio da administração. É aliás esse, precisamente, o sentido da contribuição que se pretende seja dada pelos administradores não-executivos ao trabalho das empresas, o que muitos desconhecem. A grande maioria dos administradores não-executivos raramente é oriunda do ramo profissional das companhias que integram.

Foi em dezembro de 2012, a semanas de sair de embaixador em Paris e de ir abandonar o serviço público que tinha exercido por mais de quatro décadas, que recebi um convite de Alexandre Soares dos Santos para me juntar à Jerónimo Martins. Foi uma total surpresa: viviam-se os tempos da "troika" e do governo Passos Coelho, que ninguém desconhecia estar muito longe da minha simpatia. Entendi dever esclarecer isso mesmo a quem me formulava o convite. A resposta desarmou-me: "A política não é para aqui chamada. Precisamos de si para nos ajudar a pensar o futuro, à luz da sua grande experiência internacional. Só isso!" E foi exatamente assim, durante 12 anos. Os meus colegas, entre os quais fiz alguns amigos para a vida, testemunharam frequentemente a minha teimosa heterodoxia e até isolamento, em face de outras perspetivas conjunturalmente dominantes. Mas sempre ali disse tudo o que quis, às vezes coisas que sabia irem ser menos cómodas de ouvir. Honra muito a empresa a existência desse saudável ambiente de pluralismo e de tolerância.

A prova provada da total liberdade que vivi na Jerónimo Martins - aliás comum a outras empresas com que colaborei ou ainda colaboro - é que, como colunista de três jornais que entretanto tinha passado a ser, eu zurzia regularmente, sem contemplações, as minhas "bêtes noires" políticas e nem por isso alguma vez recebi a menor observação de desagrado da parte de qualquer dos meus empregadores. Nem por uma só vez! E eu sabia, de certeza segura, que, muitas vezes, eles não concordavam minimamente comigo.

Quando entrei para a Jerónimo Martins, fui à Colômbia à inauguração da primeira loja que lá foi criada. No ano passado, abrimos ali a loja 1000! Nos quatro mercados onde hoje opera, a Jerónimo Martins tem cerca de 6000 lojas abertas, dando emprego a mais de 140 mil pessoas. Há 12 países membros da ONU que têm menos habitantes... 

Quero, assim, nesta ocasião, deixar claro que tive um imenso gosto e orgulho em ter colaborado, durante estes 12 anos, com a Jerónimo Martins, e que me sentirei para sempre "da casa". Aproveito para deixar um abraço a Pedro Soares dos Santos, o grande responsável pelo imenso êxito que a empresa tem vindo a ter nas geografias onde hoje atua. É público e notório que Pedro Soares dos Santos é uma pessoa polémica, que tem criado mesmo alguns detratores e inimigos. Mas é bom que se saiba que também tem muitos amigos. Eu, por exemplo.

sábado, abril 05, 2025

Desculpa, Manuel!


Fiz o meu melhor, mas o melhor não chegou! Tentei compatibilizar uma inadiável ação cívica, no Parque das Nações, com o lançamento de um livro do meu amigo Manuel Duran Clemente, que iria ter lugar na Voz do Operário, duas horas depois. Não deu para ir! A ubiquidade é "uma cena que não me assiste", como dizia o outro cromo. Lisboa, num sábado de sol, cheio de turistas que descobriram o miradouro da Senhora do Monte, deixou a Graça pouco acessível, para mais a quem já ia atrasado e com necessidade de estacionar. E assim, errando nervoso por ruelas e já quase por lá, concluí que ia ter de faltar, ao contrário do que tinha prometido, ao lançamento do livro do Manuel, um camarada de armas, como eu tributário desse insigne Serviço de Administração Militar, que alguma coisa deu a Abril. "Mas isso já foi há meio século!", dirão uns cínicos preciosistas de datas. Eles não sabem nem sonham que meio século é uma ninharia para uma amiga cumplicidade. Vou comprar o livro, claro. E, depois, direi de minha justiça. Só posso esperar que tenha sido "bonita a festa, pá".

O meu primeiro telegrama


Ontem, passei pelo arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros e pedi para ver a "telegrafia" saída da  nossa embaixada em Oslo nos anos de 1979 a 1982. O meu objetivo era recolher dados de que necessitava para uma determinada finalidade.

Esses telegramas, nome que no MNE se dá às comunicações entre as embaixadas e Lisboa, são assinados pelos dois embaixadores com quem ali trabalhei sucessivamente e, em escassos casos, subscritos por mim próprio, como "encarregado de negócios", nas ausências dos titulares e no período em que assumi a chefia entre esses dois embsixadores.

Estava eu entretido a ler essas escassas centenas de textos quando, de repente, deparei com este telegrama. Tem a curiosidade de ser o primeiro texto dessa natureza que eu assinei, no dia 17 de julho de 1979. Há dias, curiosamente, deixei aqui cópia do último que subscrevi, em janeiro de 2013. Verdade seja que, se este último tem algum "sumo", o que hoje publico é um texto completamente vulgar, que constato que apenas cuidei que estivesse bem ao estilo MNE.

Se bem atentarem, nele sigo a regra sacrossanta da Casa de evitar artigos e preposições, uma prática já então sem o menor sentido, que ainda refletia os tempos em que os telegramas eram enviados pelo telégrafo e era preciso poupar nas letras e no custo do envio. Nesse ano de 1979 e muito depois, a regra só era mantida por mero seguidismo com a liturgia da casa. Recordo-me bem quando um dia, 25 anos mais tarde, como embaixador no Brasil, dei instruções escritas aos meus colaboradores para passarem a escrever textos corridos: houve quase um motim! A tradição deixa raízes.

A máquina em que grafávamos os textos não permitia colocar acentos nem cedilhas, o que, como notarão, obrigava à repetição da letra em sua substituição. Por exemplo, "não" é "naao", para utilizar algo (por ora ainda felizmente) em voga. No texto, repararão também que as nossas autoridades máximas eram (e continuam a ser) antecedidas por "Sexa". O ". /." no final era uma convenção nossa para dar sinal disso mesmo, de que o telegrama chegava ao fim.

Finalmente, uma nota sobre o conteúdo do texto. Era prática regular as embaixadas informarem Lisboa das notícias que saíam sobre Portugal e, ao fazê-lo, era interessante explicar qual era a orientação dos jornais que traziam essas notícias. É o que faço no texto.

Enfim, ao reler agora aquele meu primeiro telegrama, fiquei com alguma pena pelo facto de ele não ter sido mais "literário" e de substância. Mas, pensando bem, fui prudente: se há coisa que o Ministério detesta é ver os encarregados de negócios, conjunturais chefes de missão, porem-se "em bicos de pés".

França. Um clima político pesado e complexo.


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sexta-feira, abril 04, 2025

Uns para os outros


"Onde?! No Cacém?! Tenho de ir à Loja de Cidadão do Cacém, para recuperar o código do meu Cartão de Cidadão?" Era assim mesmo, se quisesse resolver o problema, criado pelo meu descuido, sem ter de esperar quase um mês, fui informado pelo telefone. Mas também podia escolher ir à Azambuja. 

E lá fui ao Cacém. Na sala de espera, sentei-me ao lado de uma senhora, com oitenta e muitos anos, que olhava com curiosidade o iPad em que eu lia notícias, para passar o tempo. A certa altura, não resistiu: "Isso tem as "coisinhas" iguais às do meu telemóvel. Deve ser bom poder ler com essas letras grandes. No meu telemóvel - veja! - são letras tão pequeninas!" Também não resisti: "Quer ter letras maiores no seu telemóvel? Dá-me licença que mude as letras que usa?" E lá fiz a alteração, aumentando-lhe num segundo as letras, com a senhora encantada com o resultado: "Nunca ninguém me tinha dito que isto era possível! Vejo muito melhor assim! O que a gente aprende!". 

Entretanto, já ia passando bastante tempo sobre a hora para a qual tinha sido convocado, e a minha nervoseira ia aumentando. À minha parceira de espera não escapou o facto de eu olhar repetidamente para o quadro eletrónico. A certa altura, perguntou: "O que vem aqui fazer?" Disse-lhe e foi então a vez de ela me ser útil: "Ah! Mas isso não é aqui! É lá ao fundo, na outra sala. Ainda há dias fui lá com uma prima!"

Eu estava, como diz o Sérgio Godinho, "à espera do comboio na paragem do autocarro". O que a gente aprende! Temos de ser uns para os outros, não é?

Le Pen na extrema-direita francesa


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Macron entre o presente e o destino


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Outros tempos


Eu ainda sou do tempo em que o agora vice-presidente americano J D Vance escrevia tweets assim.

Tarifaço

Os brasileiros são incomparáveis na sua capacidade imaginativa para descobrir palavras "gráficas", que crismem certas realidades. As medidas aduaneiras de Trump são, claro, um "tarifaço"!

China

A resposta chinesa às medidas aduaneiras de Trump não "desiludiu" as expetativas: olho por olho. Como estamos em mares nunca dantes navegados em termos de comércio internacional, só nos resta perceber o modo como os mercados vão reagir e, claro, sofrer as eventuais consequências.

Sem olhos em Gaza


Entre os direitos aduaneiros de Trump e as angústias de Zelensky, o mundo não olha para a barbárie que Israel continua a praticar, todos os dias, em Gaza. É uma forma de racismo na atenção. 

Trump e a NATO

A NATO, tal como a conhecíamos, não está a funcionar. A sua principal virtualidade era a certeza dos adversários de que, em caso de ataque a um aliado, os outros (isto é, os EUA...) reagiriam em seu apoio. Até ver, com Trump, isso acabou. Contudo, Trump não durará sempre e não há a certeza de que o futuro da América seja seu herdeiro orgulhoso. Podemos assim perguntar-nos se haverá mais vida para a NATO, tal como a conhecíamos, depois de Trump.

Burden

Os aliados europeus dos EUA deram por adquirido, durante décadas, que era do interesse estratégico americano garantir a defesa da Europa. Por essa razão, não iam levando muito a sério os sucessivos avisos para aceitarem o "burden sharing". Agora, Trump acordou-os.

quinta-feira, abril 03, 2025

China

A Rússia é um "fait divers". Para os EUA, o que realmente conta é a China. Com o "tiro no porta-aviões" do comércio, os EUA concretizam agora um ataque sem precedentes aos interesses de Pequim. Nunca sabemos bem o que está na cabeça dos chineses, salvo a questão de Taiwan. Terá graça ver como irão reagir.

Na hora do bitaite

É num dia como o de hoje que me congratulo com o facto de ter decidido suspender o meu comentário regular sobre temas internacionais. É que, estou certo, seria tentado a "dar bitaites" sobre as medidas protecionistas de Trump, tema em que os economistas se dividem.

Isto

Basicamente, é isto: "“The era of increasingly free and extensive international trade, built upon a rules-based system that the U.S. was instrumental in shaping, has drawn to an abrupt end,” Eswar Prasad, a professor of trade policy at Cornell University, said." (NYT)

terça-feira, abril 01, 2025

Militares

Tive ontem o gosto de ser convidado a falar sobre um tema internacional durante o almoço numa associação que reúne pessoas orgulhosas do seu passado militar profissional. Foram algumas largas dezenas que se deram ao cuidado de me ouvir, entre eles oficiais generais dos três ramos das Forças Armadas. As perguntas foram muitas e excelentes, em quase três horas muito bem passadas. No final, foi bonito ver respeitado um minuto de silêncio "em memória dos nossos camaradas que morreram em combate", seguido do canto do hino nacional.

Xenofobia

O diretor da PJ, Luís Neves, cometeu um lapso ao deixar-se ficar na imagem ao lado de Fernando Gomes. A extrema-direita, que nunca lhe perdoou as palavras corajosas com que denunciou o alarmismo xenófobo, caiu-lhe agora em cima. Estou certo que a senhora ministra da Justiça não é das pessoas que se deixam impressionar por estas manobras.

domingo, março 30, 2025

Conversa sobre Defesa


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Do tempo do Dr. Kildare


Com 90 anos, morreu o Dr. Kildare, isto é, o ator Richard Chamberlain. Para a minha geração, a que ainda viu televisão apenas a preto e branco, Kildare era contemporâneo do Bonanza, da Polícia da Estrada, do Mr. Ed, dos julgamentos do Perry Mason e do Roger Moore vestido à Peter Pan, nos pífios cenários do Ivanhoe.

Foi há muito tempo? Se foi! Se o Dr. Kildare ousasse mostrar-se, nos últimos anos, a fazer um gesto como o que a fotografia desse tempo aqui mostra caía o Carmo, a Trindade e o Lux.

Demagogia

Serei só eu quem considera perfeitamente natural que o primeiro-ministro não tenha ficado na fila do serviço hospitalar e tenha sido atendido com prioridade? Passa pela cabeça de alguém que quem tem a responsabilidade máxima na governação do país fique umas horas na sala de espera, de pulseira amarela?

sábado, março 29, 2025

Constantinopla


Um amigo disse-me que vai a Constantinopla ou lá como agora aquilo se chama. Não sou de invejas, mas senti algumas. Fazer toda a Istiklal a pé e apanhar de volta o elétrico desde a praça Taksim é das coisas de que tenho saudades. É das cidades mais fantásticas do mundo! 

Às duas p'rás três!



O estranho amadorismo da classe política dos EUA


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Um abraço ao Marcos, desde Lisótima


Neste tempo em que os amigos se vão como as cerejas, uns atrás dos outros, sei que arrisco converter este espaço num somatório de notas necrológicas. Mas não posso nem quero deixar de fazê-lo. O meu mundo, que por aqui anoto ao sabor do impulso, sem rotina de diarista*, é o que é e, por muito que procuremos agarrar o futuro, o passado e os seus mortos fazem parte integrante da nossa vida.

Chega-me agora a notícia de que morreu, no Recife, aos 85 anos, Marcos Vilaça, um magistrado, escritor e destacada figura da cultura brasileira, que por duas vezes ocupou o cargo de presidente da Academia Brasileira de Letras. E que era meu e nosso amigo - nosso, isto é, de Portugal, que o distinguiu oficialmente. Por aqui era também académico correspondente da Academia das Ciências. 

Marcado na existência pela prematura morte de um filho e, muitos anos mais tarde, pelo desaparecimento de Maria do Carmo, a sua simpática mulher, Marcos, que à primeira vista afivelava um carão grave e enganador, tinha um humor magnífico e uma cultura exuberante, com que sabia alegrar os convívios e entreter os amigos. E tinha muitos.

Marcos Vilaça não visitará nunca mais Lisótima, nome que, desde sempre, ele dava a Lisboa.

* Lembrei-me agora de que, no dizer brasileiro, "diarista" significa "mulher/ homem a dias".

Os EUA e a Ucrânia: as negociações e os negócios


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quinta-feira, março 27, 2025

Dos lóbis

A escolha do cabeça de lista do PSD por Bragança, que só um cego não veria que iria suscitar polémica, é, em si mesma, bem reveladora de como o partido se encontra preso a lóbis e lógicas de aparelho dos quais não consegue desligar-se. 

quarta-feira, março 26, 2025

O livro, a mesa e a solidariedade


Há dias, numa romagem com o meu amigo José Ferreira Fernandes à livraria Ulmeiro, na Avenida do Uruguai, que mudou ligeiramente de sítio e perdeu o gato à porta, não resisti: comprei, por bom preço, uma edição antiga do "Guia das Assembleias Gerais", de Mariano Roque Laia. 

Ainda me perguntei sobre se não teria um outro exemplar, em algum das dezenas de caixotes de livros que guardo por Vila Real. Se calhar tenho, mas achei que, por vénia à memória, não podia deixar de adquirir aquele livro. 

O "Guia das Assembleias Gerais", de Roque Laia, que teve a sua 1ª edição em 1957, foi, por muitos e bons anos, a "bíblia" das Assembleias Gerais. Trata-se de uma utilíssima codificação de regras e procedimentos, sem força jurídica vinculativa mas com um peso "moral" que, mesmo ao tempo da ditadura, quase ninguém ousava contestar. Usar "o Roque Laia" com mestria era meio caminho andado para gerir bem uma Assembleia.

Muito compulsei "o Roque Laia" quando presidi à mesa da Assembleia Geral da associação de estudantes do ISCSPU - isso mesmo, com "U", quando algum país também teve a ilusão de que o "U" lhe pertencia para sempre... Devo ter sido tão bom presidente, nesse ano letivo de 1969/70, que, no ano seguinte, o Ministério da Educação não "homologou" a minha reeleição. Embora, 30 anos mais tarde, tivesse sido colega de governo do ministro que referendou aquela decisão, tive sempre a delicadeza de nunca abordar com ele o episódio.

Mais recentemente, entre 2013 e 2015, já reformado, presidi à mesa da Assembleia Geral da Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses. Não tive então "o Roque Laia" à mão, mas também não precisei dele. Nos dias que correm, quase dirijo assembleias gerais "de cor".

Dito isto, há poucas horas, voltei a lembrar-me deste recém adquirido livro quando tomei posse do cargo de presidente da mesa da Assembleia Geral da APDP - Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, uma instituição sem fins lucrativos que desenvolve um trabalho imensamente meritório e a que terei o privilégio de poder prestar esta minha modesta contribuição, nos próximos quatro anos, substituindo o Dr. Narciso da Cunha Rodrigues. Já tinha destinado à APDP metade dos direitos de autor da edição de 2023 do meu livro "Antes que me esqueça". Quem comprou o meu livro já ajudou a APDP.

Com franqueza, não espero ter de recorrer ao "Roque Laia" nas novas tarefas que vou exercer. Mas, pelo sim pelo não, o livro já ali está à mão de semear.

(A propósito: sabia que, sem que receba menos reembolso nem aumente o imposto que tem de pagar, pode colocar na sua declaração do IRS a consignação à APDP de 1% daquilo que vier a entregar às Finanças? Se o fizer, ajudará a que esta instituição, que está na primeira linha da luta contra uma doença que afecta um milhão de portugueses, venha a receber uma verba, ainda que pequena, que ajudará ao seu funcionamento? É simples: no campo dos apoios às IPSS coloque o NIF da APDP: 500 851 875. Vá, faça esse gesto!)

Coisas de outro tempo


Costumo dizer que, em regra, não guardo papéis. A regra tem, contudo, algumas raras exceções. Hoje, numa pasta que estava fechada há precisamente uma dúzia de anos, encontrei esta que foi a minha última comunicação para o Ministério, no meu último dia como embaixador em Paris, em finais de janeiro de 2013. Já não me recordava bem dos termos desse "telegrama" (é assim que chamamos às comunicações no MNE) que dirigi ao ministro Paulo Portas. Mas, confesso, continuo a achar adequado o que escrevi. 

(Uma nota para os não iniciados: a expressão "Secretaria de Estado", usada no texto, designa, no nosso jargão diplomático, os serviços do MNE em Lisboa. Porquê? Porque ainda obedece à memória da "Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra", criada em 1736...)

terça-feira, março 25, 2025

Uma coisa é uma coisa

O cartaz em que a cara de Montenegro surge ligada à palavra corrupção é uma forma miserável de fazer política. Até pode favorecer o primeiro-ministro, dado que as imputações de que é alvo nada têm a ver com corrupção, a contrário das acusações que visam o seu parceiro no cartaz. E as pessoas sabem isso.

domingo, março 23, 2025

Oeiras, Madeira


Guinness

O cabeça de lista do PS pela Madeira teve a sua 10ª derrota. Perder 10 vezes não é uma coisa por aí além; bem pior seria perder 20 vezes, não é? E assim até pode vir a entrar no Guinness! Mas ao PS nunca ocorreu tentar outro nome? É uma ideia "fora da caixa", eu sei!, mas pensem nela! Não é preciso pressa: daqui a uns anos e umas derrotas mais...

Old Joe


Uma das grandes injustiças que Trump ainda não colmatou é o resgate da memória de Joseph McCarthy, figura que os tempos atuais acabam por tornar num referencial da espécie de democracia a que os americanos têm direito.

sábado, março 22, 2025

Entretanto, na Faixa de Gaza...


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Pois, pois...


Então a Primavera começou ontem?! Muito me contam...

Friedman

Tom Friedman no NYT: "Trump and Netanyahu are brothers from different mothers, and there’s only one good thing about both of them, and that’s God only made one of each." 

Por que será?

Os analistas nacionais que costumam dar mais credibilidade a fontes russas coincidem, nos últimos dias, num crescente ceticismo quanto às hipóteses de ser obtido a breve prazo um acordo na questão da Ucrânia.

quinta-feira, março 20, 2025

A bolsa ou a vida diplomática


Eram os meus últimos dias como embaixador no Brasil. 

Como é de regra nos postos em que a vida nos corre profissionalmente a preceito, as últimas semanas são preenchidas por uma imensidão de almoços e jantares de despedida, oferecidos por amigos, que juntam à nossa volta aqueles de quem vamos sentir saudades e personalidades que contactámos na nossa atividade. O número de refeições e o nível das presenças nessas ocasiões é sempre um belo teste ao saldo de memória positiva que vamos deixar no país e na cidade onde trabalhámos. 

Naquela noite de dezembro de 2008, num belo jardim da casa de um casal amigo, sobre o lago Paranoá, em Brasília, o jantar reunido para a nossa despedida teve algumas dezenas de pessoas, distribuídas por várias e divertidas mesas. O dono da casa, uma pessoa de extrema simpatia de quem eu tinha ficado um bom amigo, era uma das figuras proeminentes da vida social da capital brasileira. Em sua casa, eu tinha conhecido o "tout Brasília", logo após a minha chegada. A sua mulher era uma anfitriã fantástica. Toda a noite correu extremamente bem... até um certo momento.

Já nos aproximávamos da meia-noite e alguns convidados iam abandonando o jantar. A certa altura, a mulher de um dos nossos amigos deu por falta da sua carteira Chanel. Depois de uma busca sem resultados, e com base em alguns indícios, deduziu-se que ela tivesse sido levada, eventualmente por engano, por uma outra convidada, que já tinha saído com o marido, uma figura então muito conhecida e com público destaque. 

Entretanto, alguém do serviço da casa alertou para o facto de terem desaparecido vários talheres do faqueiro de prata, que estavam numa das mesas. E aí começaram a somar-se dois mais dois: alguns tinham notado que, no termo do jantar, a mulher dessa destacada figura tinha mantido embrulhado, junto de si, no que veio a apurar-se ser uma toalha de linho entretanto retirada da casa de banho, um volume que continha, manifestamente, os tais talheres desaparecidos. 

O grupo dos convidados que restavam, onde havia políticos e outras personalidades de topo da vida brasileira, partilharam então as impressões de memória recente sobre o que tinham observado no comportamento, que a diversos outros títulos se mostrara bizarro, que a referida senhora tivera durante o jantar. E a conclusão foi unânime e inequívoca: fora ela a autora dos furtos. A nossa amiga que tinha ficado sem a caríssima bolsa, além de furiosa, estava inconsolável: com ela tinham ido também as chaves de sua casa...

Chamar a polícia estava fora de questão. Nas horas e dias seguintes, diligências particulares foram levadas a cabo junto da tal figura pública, que acabou por ter um comportamento curioso: nunca admitou expressamente a culpabilidade da sua mulher, nem sequer assumindo uma eventual cleptomania como justificação, mas acabou por compensar, com um cartão e a oferta de uma outra carteira, a nossa amiga a que a sua desaparecera. As pratas, contudo, foram levadas pelo vento...

Na ventanosa noite de ontem, durante um jantar, desta vez em nossa casa, em Lisboa, a simpática anfitriã de há 17 anos contou, com deliciosos pormenores, esse atípico jantar de despedida que ela e o marido nos tinham oferecido em Brasília. À distância, diga-se, tudo pareceu bem mais divertido.

Requiem


Muita saudade já da bela buganvília dos meus vizinhos, de que a paisagem do meu jardim foi "free rider" por muitos anos, até à noite de ontem, quando o tal Martinho, que a derrubou, e talvez em compensação, me ofereceu uma vista para o Tejo.

terça-feira, março 18, 2025

À Rádio Observador


Trump/Putin, financiamento europeu à Ucrânia, a Alemanha "va-t-en guerre" e a nova chacina israelita em Gaza.

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Alemanha(s)


Tenho bem viva uma conversa telefónica com o meu pai, no preciso dia em que foi derrubado o muro de Berlim, em 1989. Ele tinha então 80 anos.

Recordo que não pareceu nessa data excessivamente feliz com a unificação alemã, não porque tivesse a menor simpatia pelo regime comunista de Leste (longe disso!), mas porque, como "aliadófilo" ferrenho que havia sido e como eterno desconfiado da bondade do poder europeu da Alemanha, repetia por vezes o dito atribuído a Mitterrand: "Gosto tanto da Alemanha que prefiro ter duas..." Tenho, contudo, a certeza que, lá no fundo, ele se congratulou com a reconciliação europeia que isso representou. 

Muita água passou sob as pontes. No dia de hoje, a Alemanha deu um passo importante no sentido de consagrar uma alteração radical à sua postura de contenção em matéria de política de defesa. 

O meu pai já morreu há muito. Desconfio, contudo, que, se fosse vivo, e uma vez mais, não se sentiria muito confortável com os novos ventos que sopram de Berlim. Se nem eu me sinto muito...

Notícias do défice

Há anos, por cá, quantos se mostraram relutantes em inserir na Constituição um valor-travão para a dívida foram considerados irresponsáveis. O rigor dos "frugais" e o quase "diktat" alemão fazia então escola entre nós. Agora que Berlim já flexibiliza, estão tão calados?

Israel (3)

Mais 300 e tal mortos em ataques israelitas em Gaza num só dia. Qual é a razão, qual é ela pela qual se deixou de falar no processo movido a Netanyahu, como um possível "criminoso de guerra", pelo Tribunal Penal Internacional? Ou lembrar isto transforma-nos logo em anti-semitas?

Israel (2)

Com mundo distraído com a Ucrânia, Israel "distrai-se" em Gaza e na Cisjordânia. Até as lágrimas da Europa secaram. 

Israel (1)

Alguém acreditava que Israel ia cumprir a trégua negociada com o Hamas?

Voto

Já decidi: a menos que me anunciem que, num determinado dia, "caiu o Carmo e a Trindade", não tenciono ver a cobertura televisiva das eleições. Assim, desejo muito boa sorte àqueles em quem confio e, claro, menos sorte àqueles de quem desconfio. E seja o que o eleitor quiser!

segunda-feira, março 17, 2025

Maria Cachucha


Hoje à tarde, ouvi alguém dizer que este meu blogue era já "do tempo da Maria Cachucha". Ainda antes de conseguir responder à graçola, surgiu logo do lado: "Mas ainda há blogues?" Foi demais! Chegado a casa, fui beber um whisky. Velho, claro!

Zelensky

Zelensky joga um jogo muito delicado. Ao colar-se aos europeus, que hoje são os seus mais fiéis amigos, acaba por rigidificar, até no discurso, a sua posição. Essa atitude pode vir a irritar Trump, no passo negocial seguinte, o que lhe seria fatal. Não é fácil estar no seu lugar.

Bolsonaro

Bolsonaro, que estará na iminência de ser detido, por implicação na tentativa de golpe para evitar a posse de Lula, continua a ser um fator polarizador de quase metade do Brasil. E é também um embaraço para a direita brasileira, que tem pouco tempo para encontrar um seu sucessor. 

Uma coisa é uma coisa

Fica a ideia de que os europeus querem misturar a tarefa de fiscalização de um cessar-fogo na Ucrânia, que devia ser da responsabilidade de forças neutrais, com as garantias de segurança para o país, que podem ser dadas sem tropas no terreno.

Kursk

A incursão ucraniana em Kursk, em 2024, pretendia aliviar a pressão russa no Donbass, o que não veio a acontecer. Outro objetivo seria utilizar essa ocupação, agora falhada, como moeda de troca territorial numa futura negociação. A virtualidade militar da aventura em Kursk, com os custos humanos e materiais envolvidos, parece assim muito duvidosa.

Português

O professor Jorge Miranda, uma grande figura do Direito, que há dias disse que todos os imigrantes que cá chegam deveriam saber falar português, deveria refletir no facto de, ao longo dos séculos, aos muitos portugueses que emigraram pelo mundo, em busca de uma vida melhor do que aquela que o seu país lhes proporcionava, ninguém perguntou que língua falavam.

Um lapso

Tendo comentado com regularidade em televisões, durante anos, entendo perfeitamente que, durante uma intervenção, possa ocorrer um lapso, como há dias aconteceu com Maria Castello Branco, na CNN. É fácil, para quem nunca teve essa responsabilidade, condenar do sofá. Vir a público corrigir o erro, como ela fez, parece-me uma atitude de honestidade.

A questão

Uma questão bastante delicada no cessar-fogo na Ucrânia deverá ser a composição das forças fiscalizadoras. Parece implausível que a Rússia aceite que tropas oriundas de países que têm apoiado a Ucrânia surjam ali colocadas como observadores "neutros". Mas que fará Putin se Trump insistir nisto? No atual equilíbrio, Putin não pode arriscar-se a antagonizar Trump a um ponto que o possa fazer reverter da empatia estabelecida entre os dois. Isto vai ter graça.

domingo, março 16, 2025

O outro golpe de 16 de Março


O António era um conquistador nato ou, como ele dizia com graça, referindo-se às suas tendências políticas de então, um pouco menos Nato e quase Pacto de Varsóvia. Tinha um sucesso enorme junto do "pequename", uma qualificação machista então em voga no nosso meio.

Tinha andado por Paris, na viragem dos anos 60 para 70, onde estudou sociologia e levou uma vida muito agradável, hóspede da cidade universitária, com um cheque mensal enviado pelo pai, um militar com posto elevado na Marinha. Contava histórias deliciosas da boémia parisiense que frequentara. 

Vestia-se sempre impecavelmente, tinha um MGB que era a inveja de muitos, abancava com noturna regularidade na barra do Gambrinus, onde espalhava a sua imensa simpatia e charme, que nas madrugadas ia testar nuns bares da moda. O facto de ser casado limitava-lhe, naturalmente, o espaço de manobra para as aventuras sentimentais, pelo que necessitava de montar alguns estratagemas por forma a conseguir levá-las cabo. 

Naquele mês de Março de 1974, ambos estávamos a prestar serviço como oficiais milicianos na Escola Prática de Administração Militar (EPAM), na Alameda das Linhas de Torres, no Lumiar. O António dividia o seu quotidiano entre a tropa, a universidade, onde dava aulas, e a noite.

Um dia, o António pediu a minha ajuda para uma “operação”: telefonar à mulher dele, a meio da manhã de uma determinada data, informando-a de que, inesperadamente, tinha ocorrido uma emergência e que ele fora enviado, com outros colegas, para um “exercício militar”, pelo que estaria incomunicável durante 48 horas. Eu devia acrescentar que era apenas um exercício de rotina, pelo que não havia qualquer razão para ela se preocupar. Na lógica de uma velha (ainda que contestável, eu sei!) solidariedade masculina, prontifiquei-me a fazer essa chamada telefónica.

O plano do António era arrancar cedo para a Ericeira, acompanhado de uma bela pequena, impante no seu MGB. Havia já assegurado, antecipadamente, uma folga no serviço, para que tudo corresse sem falhas. No seu caminho para a Ericeira, passou na Alameda das Linhas de Torres e do que diabo se lembrou? De ir atestar o depósito de gasolina na unidade militar, onde o preço era muito mais barato. Esse era um dos privilégios que ninguém deixava de utilizar.

À chegada à EPAM, um complexo situado onde hoje é uma universidade, o António estranhou ao ver que os grandes portões de entrada estavam fechados, contrariamente ao que era habitual. Buzinou, aparecendo pela guarita a cabeça do sargento-de-guarda, o Sacadura, o qual, reconhecendo-o, deixou entrar o carro.

Só que a vida tem destas surpresas: estávamos precisamente no dia 16 de Março de 1974. As tropas fiéis ao general Spínola tinham-se amotinado na noite anterior nas Caldas da Rainha e a EPAM, como todas as unidades militares, estava, desde há horas, de rigorosa prevenção. Como era de regra nestes casos, todos os militares ficavam obrigatoriamente retidos em serviço. A unidade não tinha conseguido contactar o António.

O António já não foi autorizado a abandonar o quartel. Recordo-me da sua fúria e do imenso gozo com que alguns de nós, escassos e discretos conhecedores do esquema que acabara de se esboroar, vimos a pobre e bela amiga do António a ter de sair da EPAM, a pé, com um saco na mão, em busca de um táxi ou de um autocarro. Por mim, livrei-me de ter de dizer uma mentira à mulher do António. Logo naquele dia, em que ele tinha um álibi imbatível. 

O António já se foi desta vida há alguns anos. 

Para os anais da História, deixo apenas aqui registado que, em 16 de março de 1974, não falhou apenas o "golpe" de Spínola...

O médico recomendou...


BEBA MENOS! 

sábado, março 15, 2025

O preço da democracia


Ver aqui.

Síria: o regresso do conflito?


Ver aqui.

Cessar-fogo na Ucrânia


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O grande José Vilhena


Inspirado por este curioso "relatório" da Comissão de Censura, datado de 1962, que o "Público" hoje reproduz, a ilustrar um artigo de José Pacheco Pereira, decidi reler, neste sábado, aquela que é uma das obras primas de José Vilhena, humorista e desenhador de grande mérito, que a ditadura detestava e a quem fez passar as passas do Algarve. 

Sou feliz possuidor da "opera omnia" de José Vilhena, mas apenas da publicada antes do 25 de Abril.



A razão

Há algo que não pode deixar de acompanhar toda a campanha eleitoral, porque não fazê-lo seria tomar os portugueses por parvos: a razão que provocou esta crise.

sexta-feira, março 14, 2025

Ad hominem

Parece claro que a tática de Luís Montenegro para as semanas que aí vêm, além de apresentar o saldo da sua ação governativa, é tentar criar um contraste de "figura de Estado" com Pedro Nuno Santos. Vamos assim ter uma campanha "ad hominem", coisa que não deve ser bonita de ver.

quinta-feira, março 13, 2025

Ontem


Foi ontem. Jantar muito bem disposto com amigos, por mais de três horas. Nem uma palavra sobre eleições, Montenegro, Marcelo, o Chega ou os socialistas. Nem uma só vez chamados a terreiro Trump, Putin, a Europa ou alguma guerra. Apenas por menos de um minuto, o tal almirante roçou a troca de impressões. As boas conversas são assim mesmo.

Miguel Macedo

Lamento muito a morte de Miguel Macedo. Sempre um senhor na política, um homem sério, vítima de uma inqualificável incompetência e de leviandade judicial, feita com cumplicidade mediática, num caso que lhe afetou a reputação, a vida pessoal e profissional e, quem sabe?, a saúde.

Branco

Aguiar Branco dava ares, no início do mandato, de querer assumir uma atitude de Estado, consonante com as responsabilidades inerentes ao lugar que ocupa. Com o decurso do tempo, foi perdendo equilíbrio e isenção. É pena. Usando termos de teatro italiano, sai pela direita baixa.

Maio

A mim, confesso, tanto se me dá que as eleições sejam a 11 como a 18 de maio. Só não gosto do 28 de Maio.

Trump e Putin. O jogo


Trump dá o braço à Ucrânia e entala a Rússia numa pirueta para um cessar-fogo. 

Conversa entre Manuel Carvalho e Francisco Seixas da Costa, num podcast do jornal "Público".

Ver aqui.

quarta-feira, março 12, 2025

Encavacado

Cavaco Silva tem como objetivo de vida afirmar-se no olimpo social-democrata, numa espécie de competição virtual com a memória de Sá Carneiro e Passos Coelho. Num momento como este, com o líder do PSD envolvido numa trapalhada, o senhor professor está verdadeiramente encavacado.

Fasten seat belts!


Eu sei que a oposição já treme como varas verdes só de pensar nisto, mas gostava de lembrar que a reconstituição da AD para as eleições de maio implica o regresso a terreiro da sua terceira força, que nem pelo facto de ser mais discreta deixa de ter um forte potencial devastador.

M(AI)

Não dei conta que a senhora ministra da Administração Interna tivesse feito parte dos membros do governo escalados para irem às televisões defender a causa de Luís Montenegro. E, cá por coisas, tenho pena que isso não tenha acontecido.

Redil

Durante semanas, viu-se comentadores da área do governo criticarem Luís Montenegro, acompanhando o choque ético que atravessou o país. Isso foi ontem. Agora, com o cenário esquerda-direita de novo instalado no terreno, as ovelhas regressarão ao redil. Já se notou esta noite.

terça-feira, março 11, 2025

Samsonite


... e assim acaba uma promissora carreira parlamentar, quando tanto dela ainda era legítimo esperar. 

segunda-feira, março 10, 2025

11 de Março


Na tarde desta segunda-feira, tive muito gosto em falar para largas dezenas de estudantes, além de muitas outras pessoas presentes, no Picadeiro Real, no Palácio de Belém, sobre o que foi a tentativa de golpe militar que ocorreu há precisamente 50 anos. 

O excelente documentário feito para a RTP por Jacinto Godinho abriu a ocasião. Depois, a historiadora Luísa Tiago de Oliveira fez um enquadramento da conjuntura.

A seguir vieram os testemunhos. O jornalista Adelino Gomes relatou o insólito encontro entre revoltosos e as forças do então RAL 1, cena que ele cobriu para a RTP. O comandante Costa Correia, uma prestigiada figura que meses antes ocupara a polícia política à frente de uma força da Marinha, relembrou a sua participação nesse frente-a-frente, que o filme registou para a História.

Seguiu-se a evocação da célebre Assembleia do Movimento daa Forças Armadas, por três pessoas que nela participaram e intervieram. 

No que me toca, procurei explicar o que fazia o oficial miliciano que eu à época era no seio daquela história. Contei como integrei um grupo de oficiais, profissionais e milicianos, que, à hora de jantar desse dia, irrompeu pelo Palácio de Belém, suspendendo a reunião do "Conselho dos Vinte" e convenceu o presidente Costa Gomes a deslocar-se ao edifício do atual Instituto de Defesa Nacional, para uma sessão de debate com mais de 200 pessoas, entre os quais o primeiro-ministro Vasco Gonçalves e o almirante Pinheiro de Azevedo, que só terminaria cerca das sete da manhã. Tentei fazer uma leitura política do que ali se passou e, de caminho, falei também de uma outra reunião, muito mais tensa, com apenas cerca de 30 pessoas, que teve lugar 24 horas depois, onde se discutiu a composição do futuro Conselho da Revolução e em que também participei. 

O coronel Nuno Santos Silva, da Força Aérea, que no 25 de Abril tinha sido um dos ocupantes do Rádio Clube Português, deu uma muito interessante visão das tensões políticas da época, chamando "os bois pelos nomes" no tocante às graves responsabilidades de António de Spínola, que, em 28 de Setembro de 1974 e naquele 11 de Março, ia levando o país para a guerra civil.

Vasco Lourenço, figura central do MFA, encerrou os testemunhos, relatando vários episódios, nomeadamente as tensões que protagonizou com o coronel Varela Gomes, que era a figura mais polémica da chamada "esquerda militar".

A sessão terminou com uma intervenção do anfitrião da sessão, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que falou em particular para os estudantes presentes. Também ele, à época com responsabilidades no jornal "Expresso", tinha algumas histórias para contar.

Foram umas belas horas. Fica uma foto da nossa audiência.

( Deixo a minha perspetiva sobre o 11 de Março de 1975, inserida num programa da RTP. Pode ver clicando aqui. )

domingo, março 09, 2025

Pois é!

Parece que vamos mesmo para eleições. Trata-se de uma fuga em frente de Luís Montenegro, que, pela relegitimação que julga ir conseguir através delas, espera poder escapar ao juízo negativo que grande parte do país faz do modo como geriu a triste trapalhada em que se envolveu. Montenegro, que se saiba, não cometeu nenhuma ilegalidade, mas o seu comportamento na questão dos seus interesses empresariais demonstra uma indesculpável leviandade, que se não esperava de um primeiro-ministro e de um político experiente. A paralela exposição de uma rede de conluios entre autarquias, escritórios de advogados e estruturas partidárias, que se soma a outros episódios recentes, conduz a opinião pública a um juízo cada vez mais negativo sobre a integridade do aparelho político, à conclusão de que o país está subjugado por uma inescapável rede quase mafiosa de troca de favores. É com estas e com outras que, daqui a uns meses, só um milagre nos livrará de ver em Belém um totem de cara esfíngica, uma espécie de justiceiro eleito "by default". Nessa altura, os políticos que agora por aí andam bem poderão limpar as mãos à parede pelo lindo serviço que irão fazer à imagem do país.

sábado, março 08, 2025

Mulheres

Finais de 1985. Tinha acabado de chegar a Lisboa, vindo do segundo de dois postos no estrangeiro. Estava com dez anos de carreira. Fui colocado no serviço que fazia a coordenação dos assuntos europeus. Portugal ia "entrar na CEE". 

Eu era o único diplomata naquele serviço, onde só havia técnicos economistas: várias mulheres e um homem. Fiquei sob a chefia de uma delas. Dias depois, um amigo telefonou-me, inquirindo: "Ouvi dizer que vais ser chefiado por uma técnica?" Com toda a calma, disse-lhe: "Vou. Qual é o problema?" Sempre achei que, por detrás da pergunta, onde despontava algum elitismo profissional, estava essencialmente a circunstância de eu ir ser chefiado por uma mulher, o que nunca, até então, tinha acontecido a alguém da minha ou de anteriores gerações diplomáticas. 

Trabalhei ali quase dois anos, sempre sob a mesma chefia. De todas as colegas que conheci à minha chegada àquele serviço, incluindo naturalmente aquela que o dirigia e algumas outras que entretanto ali chegaram, fiquei para sempre amigo.

Exatamente dez anos mais tarde, vim a ocupar um cargo governativo na mesma área. Para o meu gabinete, escolhi sempre muito mais mulheres do que homens. Não o fiz deliberadamente pelo facto de serem mulheres, confesso: sempre escolhi as pessoas exclusivamente pela sua competência técnica. Houve mesmo um período de alguns meses em que toda a gente que trabalhava comigo, com exceção dos dois motoristas, eram mulheres. 

Mais tarde - em Nova Iorque, Viena, Brasília e Paris - trabalhei com muitas mulheres. Desde há muitos anos que a qualidade do serviço público, na área externa que conheço bem, muito deve às mulheres, diplomatas ou técnicas, sem esquecer a indispensável máquina administrativa.

Trabalhar com mulheres foi sempre algo que gostei muito de fazer. Apeteceu-me recordar isto, neste que ainda é o dia internacional delas.

Tão simples...

O que faria se fosse eu a determinar o sentido de voto no PS na moção de confiança que o governo vai apresentar? Muito simples: decidia que o PS se abstinha, não caindo na esparrela de uma moção oportunista. De seguida, claro, avançava para a comissão parlamentar de inquérito. 

Quem será?

A mini-crise política em que país se viu envolvido não parece ter tido origem, que se saiba, em nenhum imbróglio empresarial de algum dirigente da oposição. Estão de acordo? Se sim, fácil será identificar o nome de quem quer levar o país para eleições.

Viva o 8 de Março!

A frase não é minha, li-a há pouco e é uma verdade que, nem por ser lapalisseana, deixa de ser uma imensa verdade: metade do mundo são mulheres; a outra metade são os filhos delas. Viva o 8 de Março!

A denúncia da ditadura


Sou pouco dado a ir a filmes que estão na berra. Faço mesmo gala de não correr a ver os que tiveram Óscares, antes de passarem uns bons tempos sobre o início da sua exibição. Às vezes, acabo por só os ver na televisão.

Pratico o mesmo com a leitura de autores a quem tiver saído, na rifa de Estocolmo, o Nobel da literatura. Só os leio, quando os leio, mais de um ano depois. Idem com os restaurantes ditos imperdíveis. Só lá vou quando já quase não se fala deles e ninguém lhes liga. É isso: em toda a minha vida, sempre mantive uma forte rejeição às modas. É claro que isso me coloca um pouco à margem nos jantares "en ville" ou nas almoçaradas em tertúlias. Mas cada um é como é, não é? 

Ontem, porém, uma circunstância muito pontual, por cancelamento de outro compromisso, deu-me a possibilidade de ir ver o filme brasileiro "Ainda estou aqui". Não escondo que algum viés político me fez privilegiar a ida a essa "fita". Um filme contra uma sinistra ditadura como foi a brasileira é, para mim, algo interessante. Não me arrependi: filmes como este, ainda por cima nos tempos que correm, oferecem boas lições históricas. Resta saber se alguém as aprenderá, ou melhor, se elas têm alguma eficácia para trabalhar as consciências e conseguir mudar o curso das coisas.

Já agora, deixo a minha opinião sobre o filme. Tem belos pormenores de realização, com apelativas imagens de época, embora os saltos no futuro quebrem e não acompanhem o ritmo narrativo anterior, acabando por "documentarizar" uma parte significativa da obra. Achei pena! Fernanda Torres revela-se uma magnífica atriz. 

No final do filme, rodeado de pipoqueiros, tive a cobardia de não abrir uma salva de palmas. Teria sido instrutivo saber se haveria muita gente a seguir-me. Provavelmente não teria. Mas o facto é que não tive a coragem de ser coerente com o que estava a pensar. 

sexta-feira, março 07, 2025

"A Arte da Guerra"


Para quem tiver paciência e uns minutos, desta vez de forma não segmentada porque se trata basicamente dos mesmos temas, aqui fica o episódio desta semana do podcast "A Arte da Guerra", com o jornalista António Freitas de Sousa, em que se fala de Trump, de Zelensky, dos esforços de defesa europeus, da questão nuclear, da guerra comercial americana e até do futuro papel da Turquia. Como se diz nos restaurantes, espero que gostem.

Pode ver e ouvir aqui.

quinta-feira, março 06, 2025

José António Saraiva


Foi há mais de duas décadas. Eu tinha sido objeto de uma determinada ação política, executada com o objetivo de me prejudicar, embora embrulhada em falsos pretextos. O "Expresso", de que José António Saraiva era diretor, publicou, na sua primeira página, uma notícia que dava uma visão falseada da questão, claramente soprada por alguém a quem essa versão convinha que fosse difundida por um jornal com aquela projeção. Conhecia mal José António Saraiva, mas telefonei-lhe e disse-lhe isso mesmo. A sua reação foi de clara surpresa: "Só publiquei a notícia daquela forma porque considerei que a minha fonte, que era de um nível político muito elevado, era de total confiança". Retorqui: "Essa pessoa, que desconfio quem seja, mentiu-lhe. Se quiser, pode citar-me a dizer que essa figura mentiu". E dei-lhe dados e pistas que lhe permitiriam, se quisesse, repor a verdade dos factos. Assim aconteceu. Uma semana depois, o "Expresso" voltou ao assunto, desta vez com todo o rigor factual e dando-me mesmo oportunidade para afirmar a minha parte da verdade. Não esqueci isto. E apetece-me lembrar esse gesto, nesta que é a hora da morte de José António Saraiva, com uma idade que conheço bem.

Língua portuguesa


Tive muito gosto de participar ontem no Congresso "Da minha Lingua vê-se o Mundo", organizada pelo jornal "Público", no seu 35° aniversário e nos 500 anos de Camões. Foi um debate animado com Álvaro de Vasconcelos, moderado pelo jornalista Manuel Carvalho.

Aa minhas intervenções centraram-se no estatuto internacional da língua, nos limites da sua projeção e no grau razoável de ambição que é possível ter para a sua contínua promoção. Falei do papel do Brasil e do futuro da língua em função do ascendente demográfico previsível de Angola e Moçambique, no final do século. Procurei ser realista, tentando não ser voluntaristicamente eufórico nas perspetivas futuras do Português no mundo. O patrioteirismo linguístico não faz o meu estilo.

Jerónimo Martins

Daqui a dias, vou deixar o cargo de membro não-executivo do conselho de administração da empresa Jerónimo Martins, lugar que ocupava desde a...