Comigo saem outros cinco colegas, um português e quatro estrangeiros, num processo de rotação que se faz com toda a normalidade, similar a outros que testemunhei no passado. No meu caso, a saída estava definida e datada há três anos. Passarão agora a integrar o conselho, além de figuras estrangeiras, três personalidades portuguesas extremamente qualificadas, que aliás conheço bem e que, estou certo, levarão novas e ricas visões do seu passado profissional para os debates no seio da administração. É aliás esse, precisamente, o sentido da contribuição que se pretende seja dada pelos administradores não-executivos ao trabalho das empresas, o que muitos desconhecem. A grande maioria dos administradores não-executivos raramente é oriunda do ramo profissional das companhias que integram.
Foi em dezembro de 2012, a semanas de sair de embaixador em Paris e de ir abandonar o serviço público que tinha exercido por mais de quatro décadas, que recebi um convite de Alexandre Soares dos Santos para me juntar à Jerónimo Martins. Foi uma total surpresa: viviam-se os tempos da "troika" e do governo Passos Coelho, que ninguém desconhecia estar muito longe da minha simpatia. Entendi dever esclarecer isso mesmo a quem me formulava o convite. A resposta desarmou-me: "A política não é para aqui chamada. Precisamos de si para nos ajudar a pensar o futuro, à luz da sua grande experiência internacional. Só isso!" E foi exatamente assim, durante 12 anos. Os meus colegas, entre os quais fiz alguns amigos para a vida, testemunharam frequentemente a minha teimosa heterodoxia e até isolamento, em face de outras perspetivas conjunturalmente dominantes. Mas sempre ali disse tudo o que quis, às vezes coisas que sabia irem ser menos cómodas de ouvir. Honra muito a empresa a existência desse saudável ambiente de pluralismo e de tolerância.
A prova provada da total liberdade que vivi na Jerónimo Martins - aliás comum a outras empresas com que colaborei ou ainda colaboro - é que, como colunista de três jornais que entretanto tinha passado a ser, eu zurzia regularmente, sem contemplações, as minhas "bêtes noires" políticas e nem por isso alguma vez recebi a menor observação de desagrado da parte de qualquer dos meus empregadores. Nem por uma só vez! E eu sabia, de certeza segura, que, muitas vezes, eles não concordavam minimamente comigo.
Quando entrei para a Jerónimo Martins, fui à Colômbia à inauguração da primeira loja que lá foi criada. No ano passado, abrimos ali a loja 1000! Nos quatro mercados onde hoje opera, a Jerónimo Martins tem cerca de 6000 lojas abertas, dando emprego a mais de 140 mil pessoas. Há 12 países membros da ONU que têm menos habitantes...
Quero, assim, nesta ocasião, deixar claro que tive um imenso gosto e orgulho em ter colaborado, durante estes 12 anos, com a Jerónimo Martins, e que me sentirei para sempre "da casa". Aproveito para deixar um abraço a Pedro Soares dos Santos, o grande responsável pelo imenso êxito que a empresa tem vindo a ter nas geografias onde hoje atua. É público e notório que Pedro Soares dos Santos é uma pessoa polémica, que tem criado mesmo alguns detratores e inimigos. Mas é bom que se saiba que também tem muitos amigos. Eu, por exemplo.