quinta-feira, outubro 08, 2009

Copé

Foi muito interessante o almoço que o meu colega sueco hoje promoveu com o líder parlamentar do partido da maioria UMP, Jean-François Copé, uma figura em ascensão na vida política francesa, que corajosamente recusa a "langue de bois" e que tem uma afirmação pública cada vez mais forte.

Porque o papel de um embaixador também exige a assunção da frontalidade, tive com ele um "bate-bola" franco, embora muito cordial, sobre a Política Agrícola Comum (PAC) e os fundos estruturais.

As regras destas conversas exigem que não revelemos o que os nossos convidados dizem. Mas nada me impede de deixar aqui expresso o que eu próprio disse: refutei a "racionalidade" da actual PAC, tão cara à França e tão "cara" a todos nós, afirmando que estaríamos preparados para rediscutir os seus actuais desequilíbrios e trabalhar, se para tal houvesse um dia vontade colectiva, para uma sua futura reorientação em favor das produções "do Sul" da Europa. E não deixei de lembrar uma realidade escondida: Portugal é "contribuinte líquido" desta política, isto é, paga para ela mais do que recebe.

Sobre os fundos estruturais, que a Europa mais rica regularmente nos atira à cara como uma espécie de resultante de uma sua suposta boa vontade histórica, deixei claro que o nosso desenvolvimento e o nosso consequente maior consumo faz com que as prateleiras das nossas lojas estejam hoje cheias de produtos produzidos noutros lugares da Europa e que as grandes empresas comunitárias sejam tão livres como as portuguesas de usufruir de tais fundos, obtendo por isso um considerável retorno. E não perdi a oportunidade de lembrar uma coisa que a maioria das pessoas teima esquecer: o maior volume de fundos estruturais, contrariamente a um velho mito, não vai para os países mais pobres da União mas sim para as regiões mais pobres dos países mais ricos.

Vale sempre a pena ter uma bela discussão e Jean-François Copé foi, neste almoço, um debatedor admirável, tanto mais que muito nos elucidou depois sobre a vida política interna francesa.

5 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Ai Senhor Embaixador que tema caro a esta sua leitora. É que farto-me de falar desses dois tópicos: a (i)racionalidade da PAC e a nossa situação de contribuintes líquidos.
Mas parece que em Portugal há palavras tabú. Irracionalidade e contribuinte são duas delas...

Helena Oneto disse...

Muito me orgulho de ter (aqui em Paris) um verdadeiro Embaixador de Portugal.

Jorge Pinheiro disse...

E é sempre bom aprendermos alguma coisa.

Anónimo disse...

Muito, mas mesmo muito esclarecedor este Post!
Albano

Anónimo disse...

Post esclarecedor,

Assunto interessante,

Fonte digna!

Carlos Falcão

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