quarta-feira, novembro 10, 2010

Remodelação

Os períodos que antecedem uma remodelação governamental - como é o caso atual, em que estão iminentes mudanças no governo francês - são sempre de grande agitação nos "mentideros" diplomáticos. A imprensa, com notícias diárias sobre nomes falados para tal ou tal cargo, é fautora de muitas dessas hipóteses e, grande parte das vezes, toma por boas o que não passa de meras conjeturas das respetivas fontes.

No seio dos diplomatas - e isto é válido para todos os postos onde servi - há vários estilos de atitude. Alguns orientam-se exclusivamente pelos jornais e, dada a profusão contraditória de nomes que deles emergem, imagino que devam criar alguma confusão nas suas capitais - onde, muitas vezes, muitos nomes aventados são totalmente desconhecidos. Outros têm confiança em fontes políticas, da alta administração ou de meios económicos, às vezes não contando com o facto destas poderem, elas próprias, ser objeto de "desinformação" ou de uma distorção de perspetiva, decorrente de uma excessiva proximidade - ou, por vezes, de excessiva hostilidade ou interesse próprio - face ao poder. Outros, ainda, tentam a desejada síntese entre todas estas origens de notícias, orientando-se pela experiência criada e procurando selecionar hipóteses que se quadrem com as perspetivas que acham mais credíveis. Estes últimos, devo dizer, enganam-se tanto como os outros.

A regra prudencial a seguir deveria ser não ter a tentação de transmitir à sua capital senão as hipóteses que um conjunto variado de fontes coincidisse em confirmar. E, mesmo assim... Porém, ninguém faz isso e, não conhecendo eu os relatórios que os meus colegas enviam às suas autoridades, imagino que, em especial ao longo das últimas semanas, tenham inundado as suas capitais com nomes possíveis para certos cargos, com o cuidadoso "especula-se em certos meios que" ou "alguns analistas apontam para que" ou ainda, num tom mais intimista, "X disse-me estar convicto de que". Em caso de erro, o verdadeiro sujeito da oração é sempre um terceiro. Em caso de ter acertado, então o texto que anunciar a remodelação dirá: "Tal como eu referi na minha comunicação nº...".

Perguntar-se-á se isto é importante, se uma remodelação num sentido ou noutro, com umas ou outras pessoas, terá um impacto que possa interessar aos países estrangeiros aqui representados. Sim e não. 

A escolha de certas personalidades pode indicar algumas opções políticas, com expressão nas relações externas (em especial, europeias) ou em políticas públicas locais relevantes para os Estado estrangeiros. Algumas figuras poderão ser nossas conhecidas - e neste "nossas" incluem-se os embaixadores ou os políticos dos nossos países. Às vezes, há importantes interesses dos nossos países que ficariam melhor ou pior servidos, em termos potenciais, se a escolha for num ou noutro sentido. Porém, atendendo a que a grandes opções governamentais relevam de uma linha política que raramente depende exclusivamente da entrada de uma personalidade para a chefia de um determinado ministério, o impacto de um nome ou de outro acaba por não ser grande.

Mas, nem por isso, a próxima remodelação governamental deixa de ser o assunto do momento, no seio da comunidade diplomática parisiense. 

4 comentários:

cunha ribeiro disse...

Perdoem o disparate, mas é para desanuviar:
-Esperemos que Sarco não dê um cargo ministerial, ou outro, à sua dama "de copas"....

Anónimo disse...

Giscard d'Estaing conta nas suas memórias que quando chegou a presidente passaram-lhe três segredos de estado. 1) a possibilidade de tirar petróleo com uma máquina fantástica 2) o nome do sucessor de Brejeniev (M Romannof) e um terceiro que me não lembro mas tão falso como os dois primeiros!
João Vieira

Helena Sacadura Cabral disse...

Ai Senhor Embaixador, nesta matéria há até quem forge que o seu nome foi indigitado para, sondado para, convidao para...
Enfim, a política e os seus meandros, sempre ao melhor estilo!

Anónimo disse...

Bem se é para desanuviar, por analogia confesso que sei quem já foi convidado em contexto geográfico Português e teve que retirar-se estrategicamente por força maior Basicamente feminina ...

Gostei!
Até porque há Males que vêm por Bem.
E se as Mulheres Sabem...Oh! Se sabem
Isabel Seixas

Os EUA, a ONU e Gaza

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